11 DE JUNHO DE 2019
PERIMETRAL
ARROGÂNCIA E INDÚSTRIA DA MULTA
"Tu anda de carro em Porto Alegre? Tu vive num mundo virtual? Tu já recebeu multa À NOITE na Avenida Mauá, onde um incompetente da EPTC viu que eu estava com a luzinha traseira da placa queimada? Ele conseguiu A PROEZA DE VER ISSO À NOITE e ainda anotar a minha placa!!! Esse é apenas um entre os inúmeros absurdos que escuto sobre essa empresa, composta por mal-intencionados, que foi criada somente para ferrar a população."
Li o e-mail acima meio perplexo, meio rindo. Não revelo a identidade do leitor, em primeiro lugar, porque todos temos direito a um dia ruim - eu mesmo dou patada nas pessoas quando ando de mal com a vida.
Em segundo lugar, porque não importa o nome dele. A mensagem ilustra justamente o que tentei mostrar, na semana passada, em um texto sobre essa arrogante invenção gaúcha: a tal da "indústria da multa".
A verdade é que ninguém tolera ser multado.
A multa é sempre uma afronta, um insulto, um abuso, mesmo que seja justa - como foi justa no caso do e-mail ali em cima. O leitor inclusive assumiu que a "luzinha traseira da placa" estava queimada, mas, sem qualquer indício de autocrítica, preferiu chamar de "incompetente" um agente de trânsito que foi indiscutivelmente competente.
Também recebi mensagens de gente furibunda com os tais "pardais arrecadadores" - e com os implacáveis "radares escondidos". Só que ninguém abriu um parêntese para dizer que, se o limite de velocidade for respeitado, esses equipamentos viram inofensivos. Claro, pode haver erros, não duvido. Alguns leitores escreveram dizendo ter sido multados por infrações inexistentes, o que deve ser verdade.
A questão é que qualquer empreitada humana está sujeita a erros. É saudável debatê-los, mas não é saudável - e muito menos honesto - recorrer a eles para desacreditar o sistema inteiro. Se alguém erra na polícia, por exemplo, ou no Ministério Público, o correto é punir quem errou, e não fechar a instituição.
O mesmo vale para a EPTC: não há dúvida de que, para cada multa errada, milhares estão corretas. Aliás, em Porto Alegre - vou repetir o dado que mencionei no outro texto -, cada azulzinho tem multado, em média, 1,35 carro por dia em 2019. Se eu, em meia hora de trânsito, já enxergo cinco ou seis infrações, que indústria da multa é essa?
É hora de aceitar que quem mais erra, mesmo, somos nós. Aí, talvez, o número de multas comece a cair.
46,17% de todas as 570 mil infrações cometidas em 2018, em Porto Alegre, foram por excesso de velocidade. Em segundo lugar, vem o estacionamento em local proibido (15,85%), seguido por avanço no sinal vermelho (9,72%).
PAULO GERMANO
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