sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019



Obra de Zygmunt Bauman apresenta diálogo gigante sobre maldade no nosso mundo 
REPRODUÇÃO/JC 

O mundo sempre foi bom e mau. As pessoas sempre estiveram divididas entre o bem e o mal e claro que bem ou mal podem ser diferentes para uns e outros. A batalha final entre o bem e o mal ainda não aconteceu, mas nesses quarenta do segundo tempo parece que o mal está ganhando de dois a um. Mal líquido (Editora Zahar, 208 páginas, tradução de Carlos Alberto Medeiros), do grande professor, pensador e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), radicado na Inglaterra desde a década de 1970 e de Leonidas Donskis (1962-2016), cientista político, professor e membro do Parlamento Europeu, apresenta um diálogo gigante, com quase 200 páginas, sobre, principalmente, a maldade neste nosso. 

Baumann foi um dos grandes pensadores das últimas décadas, publicou mais de 40 obras e notabilizou-se, em especial, pelo conceito de mundo líquido contemporâneo. Mal líquido é a sequência do aclamado Cegueira moral e trata de tipo contemporâneo do mal: mais disseminado e, ao mesmo tempo, menos visível. Antes, o mal era personificado por estados totalitários e brutais e pela perda de sensibilidade em relação ao outro e agora ele se esconde nas teias produzidas diariamente pelo modo líquido moderno de comércio e interação. 

O mal é difícil de ser detectado, desmascarado e enfrentado na sua forma atual. O mundo social parece um campo minado. Sabemos que haverá explosivos e explosões, mas não sabemos onde ou quando ocorrerão. As redes e as tramas atuais parecem criadas por George Orwell (1984), Kafka ou Aldous Huxley (Admirável mundo novo). Os laços inter-humanos parecem ter ido para o espaço. Muitos acham que, nesse planeta desregulamentado, privatizado, despolitizado e baseado em competição acirrada e estranhamento mútuo, vivemos numa época sem alternativas. 

A obra de Baumann e Donskis, com muita profundidade e embasamento, nos mostra o terreno movediço em que vivemos e como a humanidade está ameaçada de perder seus sonhos, seus projetos e sua capacidade de divergir. Tomara que nossos melhores laços humanos nos levem a caminhos menos egoístas, individualistas e deletérios. Ainda temos algum tempo, mas é melhor não demorar muito para buscarmos caminhos mais democráticos, humanos, saudáveis e sustentáveis. A natureza, nossos filhos e netos agradecem. 

Relendo a esquerda Vivemos num mundo grandemente transformado pela queda do Muro de Berlim, pelo final da Revolução Russa, pelo protagonismo crescente da China e por muitas e rápidas mudanças. Uma ficha cai de manhã, outra de tarde, mais uma de noite e, no dia seguinte, novos acontecimentos vão tontear os cidadãos de um mundo globalizado, repleto de pessoas solitárias, meios de comunicação que tantas vezes tornam os indivíduos incomunicáveis e divisões enormes. 

Desculpe-me, socialista - Desmascarando as 50 mentiras mais contadas pela esquerda (Faro Editorial, 240 páginas, R$ 39,90, tradução de Leonardo Castilhone) é obra editada por Lawrence W. (Larry) Reed, norte-americano, interessado por economia e política. Formado em economia e com mestrado em História, jornalista independente, Reed viajou por 81 países de seis continentes em 1985 e, durante 15 anos, foi conselheiro da State Policy Network. 

Entre outros, recebeu os prêmios Paladino da Liberdade (Mackinac Center for Public Policy) e Aluno de Destaque (Grove City College). Reed é considerado um dos mais importantes estudiosos sobre administração pública, política e economia e, neste livro, escrito com a colaboração de vários especialistas convidados, pretende mostrar como diversos dogmas do discurso de esquerda estão baseados em interpretações e dados bastante frágeis ou irreais. Reed entende que dizer uma mentira mil vezes não a transforma em verdade e que repetir falácias é transformá-las em clichês. 

O autor questiona frases como: a redução da maioridade penal não é a solução; a principal causa da violência é a desigualdade social; educação pública de qualidade é direito de todos; o porte de armas deve ser proibido e é preciso corrigir injustiças históricas, entre outras. Evidente que os temas são polêmicos, mas o livro de Reed aponta para os falsos argumentos e pretende iluminar o debate tão necessário e atual sobre temas como a distribuição de riqueza, o livre mercado, desastres ambientais, subsídio para as artes, assistência médica, direitos humanos e muitos outros. 

Reed entende que muitas ideias progressistas foram e são valiosas, mas que é preciso pensar, refletir e agir sobre ideias que na verdade se tornaram, tantas vezes, clichês vazios, repetidos à exaustão nas redes sociais e na grande imprensa e que merecem reavaliação, para que as pessoas possam pensar e agir com mais consciência na atualidade. Reed afirma que o estado não é o salvador da pátria e da liberdade do ser humano como um todo e efetivamente a história mostra o contrário. Robôs geram desemprego? Lucro é evidência de comportamento suspeito? 

Os ricos estão ficando mais ricos e os pobres, mais pobres? A preservação histórica não acontecerá a menos que o governo assuma o controle? Estas e outras perguntas intitulam textos do livro, que, como se vê, pretende apontar novas leituras dos discursos de esquerda. 

Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2019/02/668915-admiravel-maldade-nova.html)

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