26 DE FEVEREIRO DE 2019
CARPINEJAR
Vexame no supermercado
Há um tipo familiar que traz constrangimento. O que acha que o supermercado está caro demais e vai comendo pelos corredores.
Faz justiça com a própria boca. Confunde compras com lancheria. É capaz de consumir iogurte com a colherzinha do dedo, sem nenhuma vergonha, sem nenhum medo do ridículo. Ou de abrir um pacote de salgadinhos e produzir barulho com os dentes.
Na maior parte das vezes, descarta os produtos pelas lixeiras, com o código de barras ainda virgem.
É um passeio tão descarado, que fica acima de qualquer suspeita. É tão à luz das lâmpadas fosforescentes, que ninguém acreditará na desonestidade. Sugere ser apenas um cliente faminto - nada mais. E não há nenhuma placa impedindo o consumo entre as gôndolas.
Se algum vigia incomodar, é só replicar com a arrogância brilhante de uma pulseira vip:
- Não sabe quem eu sou? Venho aqui há décadas. E ainda ameaçar a abordagem honesta com um processo de calúnia e difamação. O alimento é absorvido antes de virar um roubo. Desaparecem os vestígios do crime até chegar ao caixa.
Quem faz isso poderia pagar perfeitamente, tem condições de sobra, é pura molecagem. Tanto que passa pela caixa registradora um carrinho atolado de compras.
São distúrbios públicos inexplicáveis. Gente aparentemente do bem que põe na cabeça que desfruta de razão e burla a lei por bobagem. Tem prazer em driblar as normas e se enxergar acima do julgamento. É aquele que apenas reclama em vez de melhorar a cidade e se dispor a combater as desigualdades pelas palavras e atitudes, por menores que sejam.
As explicações vêm calcadas de uma compensação social, de uma vítima reagindo a um sistema explorador: os preços estão nas alturas, a inflação não condiz com o aumento salarial, os outros enriquecem às nossas custas. Blá-blá-blá ideológico para esconder a falta de educação e de respeito.
Coitados dos filhos que precisam presenciar a cena, despistar, chamar atenção em vão ou sair de perto. Não acharão engraçado, mas se sentirão penalizados por testemunhar algo errado, praticado por aquele que amam. Na despensa de casa, guardarão a culpa, sem data para expirar.
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