sábado, 9 de fevereiro de 2019


09 DE FEVEREIRO DE 2019
PIANGERS

Velozes e sem rodinha


Encontrei um senhor no avião. Como vai? Tudo bem. Adoro seus textos, deixa eu te contar uma. Diga. Acho que um dos momentos mais inesquecíveis da minha relação com a minha filha foi quando ela tinha seis, sete anos, e eu a ensinei a andar de bicicleta. Ele continuou. Eu estava segurando no banquinho, até que soltei. Vi que ela continuou sem mim. Vi que ela estava seguindo pra longe, pra longe de mim. E comecei a chorar. Foi como uma despedida. Minha filha estava ganhando autonomia.

Lembrei dessa história por causa da semana passada, minha própria filha aprendeu a andar de bicicleta sem rodinha. Treinamos algumas vezes na garagem, depois na areia dura da praia. Ela caiu uma, duas vezes. Repetiu o que eu dizia: "Atleta é assim: se machuca e fica mais forte". Me mostrava os ralados do joelho. "Atleta é assim, né, pai?" É, filha. Pegou confiança para fazer curvas. Não precisa mais de um empurrão meu na hora de começar a pedalar. Pedala sozinha.

É um momento tão cheio de significado. Encontrar o equilíbrio. Andar mais rápido. Não precisar mais de empurrões. Superar os machucados. Ela me disse: "Parece mágica!". Como assim? "Parece que tem uma força mágica me equilibrando!" É mágico e cheio de emoção. Uma amiga me disse: sabe qual a minha maior lembrança no meu pai? Ele me ensinando a andar de bicicleta. Meu medo, ansiedade, o cuidado dele, a felicidade quando consegui. Eu seguindo em frente sem olhar pra trás.

Não tive pai. Por muitos anos, eu mesmo não sabia andar de bicicleta. Um amigo me emprestou uma BMX, comecei a pedalar. Ganhei minha primeira bike já adolescente. Tinha três marchas. Agora, todos aqui em casa têm suas próprias magrelas. Esses dias, saímos pra passear. Nunca imaginei que estaríamos todos juntos, pedalando em uma manhã de domingo. Brisa no rosto. Sorriso constante. Parece mágica.

PIANGERS

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