14 DE FEVEREIRO DE 2019
+ ECONOMIA
TESES LIBERAIS FALHAM NO TESTE
Torpedeado por segmentos que ajudaram a garantir a eleição de Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, passa neste início de fevereiro por seu primeiro grande estresse no governo. A conversão recente do presidente ao liberalismo econômico, ao que parece, não resistiu ao primeiro teste. O caso do fim da salvaguarda ao leite em pó abriu a guarda para os defensores de proteção, estímulo e subsídios, palavras e estratégias execradas por Guedes. Ontem, ainda antes de sofrer mais um golpe,o ministro reagiu, ao menos no discurso:
- Todo mundo vem pedir subsídios, dinheiro para isso, dinheiro para aquilo. Eu falo: o que vocês podem fazer pelo Brasil? Quebraram o Brasil, quebraram o Brasil.
Depois de projetar redução de despesas de R$ 1 trilhão em 10 anos com uma reforma da Previdência mais dura, Guedes corre o risco de perder mais uma aposta. Cresce a percepção de que a idade mínima será a preferida de Bolsonaro - 57 anos para mulheres e 62 para homens -, e a impressão de que o efeito nas contas públicas não será tão grande entrou no radar de uma das maiores agências de classificação de risco do planeta, a Moody?s. Em relatório que mexeu com o humor do mercado financeiro, a empresa afirma que a "aprovação de uma reforma que resulte em menor economia seria indicativo da limitada habilidade do novo governo de avançar de forma bem sucedida com reformas mais amplas de sua agenda".
Se parte da "limitada habilidade do novo governo" está na conta das peculiares escolhas dos articuladores, outra vai para a do superministro. Ao ser divulgado, o texto da Moody?s provocou um buraco no gráfico do Ibovespa, que caiu da faixa dos 96,5 mil pontos para 95,4 mil. Acabou fechando a 95,8 mil, com 0,34% de baixa. O trecho do relatório da agência que mais azedou o humor de investidores e especuladores foi o que prevê aprovação da reforma até outubro: "é improvável que seja finalizado antes do terceiro trimestre deste ano, e pode ser adiado ainda mais se componentes adicionais, como uma reforma trabalhista, estiverem ligados à proposta". Quem previa que Guedes poderia durar seis meses no cargo refaz contas.
A alta de 2,23% no varejo em 2018 representou o melhor desempenho em cinco anos. Mas nos dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o segmento mais destacado, até por sua longa cadeia - indústria, revendas e serviços - foi o automotivo.
Em volume, a venda de veículos, motos, partes e peças foi o maior em 11 anos, com alta de 15,1%. Só perde para o salto de 22,6% em 2007, difícil de ser repetido.
Em 2017, o segmento já havia demonstrado sinais de reação, com alta de 2,7%, após três anos consecutivos de encolhimento - inclusive a queda profunda de 17,8% em 2015, a maior da série histórica. Entre os fatores apontados como responsáveis pelo crescimento no ano passado, estão as condições de financiamento.
A mudança do regime de estímulos para o setor, com o fim do Inovar Auto e sua substituição pelo Rota 2030, ainda que atrasada, ajudou ao deixar mais claras as regras tributárias para a área.
O pior mês para vendas de carros foi maio, quando a greve dos caminhoneiros reduziu a atividade econômica no país. Ainda assim, o volume não caiu, apenas subiu menos, 2,1%. Não é à toa que as montadoras discutem investimentos bilionários no Brasil. MUDANDO DE MARCHA
MARTA SFREDO
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