09 DE FEVEREIRO DE 2019
POLÍTICA
UM OUTRO GOVERNO DENTRO DO GOVERNO
MILITARES OCUPAM CERCA DE CEM cargos na gestão federal, metade em posições estratégicas
Cerca de uma centena de pessoas com origem nas Forças Armadas ocupam postos em ministérios e estatais na gestão de Jair Bolsonaro. O número foi apontado por fontes de Palácio do Planalto consultadas por ZH. Desse total, 46 militares estão em posições estratégicas no organograma, com a palavra final sobre políticas decisivas, como extração de minérios, modernização de comunicações, construção de estradas, manutenção de hidrelétricas e questões indígenas.
Também atuam em gerências na Petrobras, Eletrobras e Zona Franca de Manaus, gestão de recursos hospitalares, segurança pública e agências de monitoramento e contraespionagem. A maioria está na reserva e foi nomeada como cargo de confiança (CC). Os da ativa ganharam função gratificada (FG). Para especialistas, na prática é um governo militar ungido pelo voto popular. A maioria desses ex-fardados desconfia de políticos e, mesmo sem verbalizar, considera-se reserva moral da nação.
O Exército concentra o maior número de quadros de primeiro, segundo e terceiro escalões. São pelo menos 32. Desses, 18 são generais e 11, coronéis, todos chamados oficiais-superiores. Mas não só o alto escalão das Forças Armadas foi prestigiado. Um tenente- coronel da reserva virou ministro (o astronauta Marcos Pontes, da Aeronáutica, que chefia a pasta da Ciência e Tecnologia) e dois capitães reservistas adquiriram status de ministro (Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União, e Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura).
A rigidez castrense não foi transportada de forma automática para o governo. Em algumas pastas, o ministro não é o mais graduado na hierarquia militar. É o que ocorre, por exemplo, na Infraestrutura. O ministro é capitão e estão sob as ordens dele dois generais: Jamil Megid Junior, secretário nacional de Transporte Terrestre e Aquaviário, e Antônio Leite dos Santos Filho, diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), além de um coronel, André Kuhn, diretor- executivo do Dnit. Em outras estatais, como nos Correios, a hierarquia foi respeitada. O presidente, Juarez Aparecido de Paula Cunha, é um general, que tem como principal assessor um coronel.
Existem pastas com status ministerial em que é usual o alto número de militares, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que faz a segurança do presidente e controla a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Mas chama a atenção que, mesmo em ministérios não liderados pela caserna, exista maior número de militares em postos de comando do que de civis. É o caso da Secretaria-Geral da Presidência, chefiada pelo advogado Gustavo Bebianno, que está cercado por cinco generais.
CONTROLE DA MÁQUINA PÚBLICA, DIZ ESPECIALISTA
Três militares de alta patente estão na cúpula da Caixa. E a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), ligada ao Ministério da Justiça, é ocupada por outros quatro. O ministério tem também um militar da Aeronáutica como assessor técnico do ministro Sergio Moro. Todas as decisões da Senasp, que influenciam no planejamento das polícias federais e estaduais, passam por militares. São do Exército os coordenadores de Licitações, de Estratégia e de Políticas.
Funções estratégicas do governo estão nas mãos de pessoal dos quartéis, analisa Nelson Düring, editor do site DefesaNet.com, especializado em assuntos militares. Em alguns casos, há interesse em coibir a corrupção, como em Itaipu Binacional e Petrobras.
- É uma tentativa de colocar ordem no governo, monitorar compras e despesas, hierarquizar procedimentos. Por isso, mesmo quando o ministro é civil, está acompanhado de militares. Mas não só isso. Há preocupação em controlar a máquina pública, que historicamente está em poder de corporações funcionais. Ainda no governo Michel Temer, os militares perceberam o quanto isso é real e começaram a se articular - acrescenta Düring.
Quem são e onde estão
1º escalão
-Presidente: capitão do Exército Jair Bolsonaro
-Vice-presidente: general do Exército Hamilton Mourão
-Ministro do Gabinete de Segurança Institucional: general do Exército Augusto Heleno
-Ministro de Minas e Energia: almirante da Marinha Bento Albuquerque
-Ministro da Secretaria de Governo: general do Exército Carlos Alberto dos Santos Cruz
-Ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações: tenente-coronel da Aeronáutica Marcos Pontes
-Ministro de Infraestrutura: capitão do Exército Tarcísio Gomes de Freitas
-Ministro da Controladoria-Geral da União: capitão do Exército Wagner Rosário
-Ministro da Defesa: general do Exército Fernando Azevedo Silva
Principais cargos no 2º e 3º escalões
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
-Diretor de Programa da Secretaria-Executiva: coronel-aviador da Aeronáutica Ricardo Roquetti
-Assessor especial do ministro: coronel do Exército Robson Santos da Silva
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
-Secretário-executivo adjunto: coronel do Exército Carlos Alberto Flora Baptistucci Secretário de Radiodifusão: coronel do Exército Elifas Chaves Gurgel do Amaral
-Chefe de gabinete do ministro: brigadeiro aviador da Aeronáutica Celestino Todesco
-Secretário de Políticas Digitais: tenente brigadeiro do ar da Aeronáutica Antonio Franciscangelis Neto
-Assessor especial do ministro: tenente brigadeiro do ar da Aeronáutica Gerson Nogueira Machado de Oliveira
-Diretor do Departamento de Serviços de Telecomunicações: coronel aviador da Aeronáutica Rogério Troidl Bonato
MINISTÉRIO DA DEFESA
-Chefe de gabinete: general do Exército Edson Diehl Ripoli
MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA
-Secretário Nacional de Transporte Terrestre e Aqua- viário: general do Exército Jamil Megid Júnior
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
-Secretário de Orçamento, Finanças e Gestão: general do Exército Nader Motta
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
-Secretário nacional de Segurança Pública: general do Exército Guilherme Theophilo Oliveira
-Coordenador-geral de Estratégia da Senasp: coronel do Exército Freibergue do Nascimento
-Coordenador-geral de Políticas da Senasp: coronel do Exército José Arnon dos Santos Guerra
-Coordenador-geral de Licitações da Senasp: coronel do Exército Marcelo Lopes de Azevedo
-Assessor técnico do gabinete do ministro: suboficial da Aeronáutica Alexandre Oliveira Fernandes
SECRETARIA-GERAL
-Secretário-executivo: general do Exército Floriano Peixoto
-Secretário especial de Assuntos Estratégicos: general do Exército Maynard Marques de Santa Rosa
-Secretário especial de Assuntos Estratégicos adjunto: general do Exército Lauro Luís Pires da Silva
-Assessor especial: coronel do Exército Walter Félix Cardoso
-Secretário de Administração: coronel do Exército Gilberto Barbosa Moreira
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
-Porta-voz: general do Exército Otávio do Rêgo Barros
GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL
-Assessor: general do Exército Eduardo Villas-Bôas
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
-Assessor: capitão de mar e guerra da Marinha Marcos Perdigão Bernardes
-Assessor: capitão de mar e guerra da Marinha Almir Alves Junior
-Assessor: brigadeiro da Aeronáutica Mozart de Oliveira Farias
CORREIOS
-Presidente: general do Exército Juarez Aparecido de Paula Cunha
-Assessor especial: coronel do Exército André Luis Vieira
DNIT
-Diretor-geral: general do Exército Antônio Leite dos Santos Filho
-Diretor-executivo: coronel do Exército André Kuhn
FUNAI
ITAIPU
-Diretor-geral: general do Exército Joaquim Silva e Luna
PETROBRAS
-Presidente do Conselho: almirante da Marinha Eduardo Bacellar Leal Ferreira
-Gerente-executivo de Inteligência e Segurança Corporativa: capitão-tenente da Marinha Carlos Victor Guerra Naguem
SUPERINTENDÊNCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS
-Superintendente: coronel do Exército Alfredo Menezes
TELEBRAS
-Diretor administrativo-financeiro: general do Exército José Orlando Ribeiro Cardoso
EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES
-Presidente: general do Exército Oswaldo Ferreira
HUMBERTO TREZZI
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