quarta-feira, 27 de maio de 2009



27 de maio de 2009
N° 15982 - PAULO SANT’ANA


O erro estrutural

Cada um sabe onde lhe dói o calo. Cada um sabe qual é o seu maior problema.

Sendo assim, elejo como as três grandes obras prioritárias para o Rio Grande: 1) o metrô de Porto Alegre; 2) A ponte sobre o Guaíba; 3) o bar da Redação da Zero Hora.

Todo secretário de Transparência de qualquer governo deveria usar óculos escuros.

O nó górdio da questão carcerária gaúcha e brasileira é que está escrito em lei que a administração das penas é da competência do Poder Judiciário.

Ao natural, quem administra as penas tem também de administrar os presídios.

Entre nós, o Poder Judiciário administra, através das Varas de Execuções Criminais, mas quem administra os presídios, erradamente, é o Poder Executivo.

Vai daí que as verbas carcerárias entram no imenso cesto orçamentário do Poder Executivo, que tira de lá toda sorte de verbas menos as carcerárias, que não dão votos.

Aí está a razão estrutural do abandono dos presídios. Se o Poder Judiciário, com sua importância e influência, manejasse as verbas carcerárias, não teríamos este caos.

Ontem, um dos corregedores de Justiça declarou na Rádio Gaúcha que atualmente cerca de 500 detentos já atingiram o regime de progressão, isto é, estão aptos a serem transferidos para o regime semiaberto.

Como não há vagas no regime semiaberto, esses 500 presos permanecem, erradamente e injustamente, nos presídios, não abrindo vagas para os novos candidatos.

Soube-se ontem que o estrangulamento populacional nas prisões não se dá só no regime fechado.

É uma crise de todos os regimes.

A repercussão sobre a minha coluna de anteontem foi enorme. Zero Hora ocupou com ela as páginas 4 e 5 de ontem, o jornal Pioneiro, de Caxias do Sul, encorpou sua edição de ontem na discussão sobre a coluna que escrevi, instalando um interessante debate entre leitores e jornalistas.

Descanse o casal de testemunhas, não se pode atribuir qualquer responsabilidade aos dois no crime.

Mas não era de se exigir de todos que a conduta deles não fosse examinada.

O episódio serviu para que a sociedade adquira a consciência de que não pode cruzar as mãos quando uma agressão (ou um crime) está se desenrolando.

No livro Nada Precisa Ser Como É, o psicanalista Paulo Sérgio Rosa Guedes aborda num poema os pensamentos recorrentes dos homens da terceira idade:

Tenho me surpreendido pensando na morte;

não bem na morte, mas no fim da minha vida.

Tenho me surpreendido pensando na doença,

destino inexorável para quem envelhece

mas não morre. Coisa sabida.

Tenho então olhado a morte,

também como uma sorte, até como uma solução,

dura, é verdade, duríssima, mas talhada

para quem que, como eu, não entende a vida morna,

vida que torna a vida um nada – ou a mantém calada.

Minha a morte, ideia estranha... muito estranha...

Nunca a preferi à vida. Nunca!

A vida forte

A vida que, também por sorte,

A tive quase toda, inteira;

a vida

que cria vida e aceita o fim

que nutre a emoção e dela se alimenta,

que busca , sem parar, dizer que sim.

(a morte, a sorte, o fim...

Nunca pensei estas questões

ligadas a mim).

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