terça-feira, 19 de maio de 2009



19 de maio de 2009
N° 15974 - CLÁUDIO MORENO


As cores do arco-íris

Plínio, sábio romano, grande conhecedor da Natureza, ensina que a terra, quando é boa, tem um cheiro inconfundível. Quem quiser senti-lo, diz ele, deve esperar que ela esteja repousada, ao fim do dia, quando o sol está se pondo. Revolvida nesta hora, ela exala o sopro divino que o sol acumulou - um aroma profundo, agradável, que fica ainda mais intenso nos derradeiros instantes em que brilha um arco-íris no céu.

Este perfume singular vinha de Íris, a mensageira luminosa, encarregada de fazer a ligação entre a Terra e o Olimpo. Segundo Homero, seu trabalho foi incessante durante a guerra de Troia, levando ordens de Zeus para os homens e para os deuses envolvidos no conflito.

Os gregos também diziam que ela era responsável por encher as nuvens de chuva com a água que tirava do mar. Como convém, ela é representada como uma jovem bela e delicada, com asas douradas e transparentes, vestida com uma túnica colorida; veloz como um raio de luz, Íris risca no céu o seu arco de cores, que, assim como ela, desaparece tão rápido quanto surgiu.

O curioso é que os gregos só viam três cores onde nós enxergamos sete: “Três cores tem o arco de Íris, vermelho, violeta e verde”, diz o poeta Xenófanes, entre muitos outros.

Quem lê os clássicos percebe que as cores de que eles falam não combinam com as nossas; o sangue é negro, o céu jamais é azul e os navios de Homero singram um mar cor de vinho. Cor de vinho! Para explicar esta imagem, inventaram de tudo: ou a visão humana teria mudado muito de lá para cá, ou todo grego era daltônico, ou Homero se referia a uma eventual maré vermelha, provocada por algas, ou o vinho (que sempre tomavam diluído) ficava azulado por causa da alcalinidade da água.

O debate terminou quando se percebeu que eles dividiam o espectro de cores num número menor de categorias, e que aquilo que eles chamavam por um só nome incluía várias cores que hoje distinguimos como individuais. Não foi o olho do homem que mudou, mas sim o seu pensamento e a sua linguagem - e, portanto, sua maneira de ver o mundo.

Essas diferenças de cultura e de linguagem vão influir igualmente em nossa gama de emoções. Todo o mundo sente alegria, medo, vergonha? Não é bem assim, dizem os estudiosos: muitas tribos africanas juntam o medo e a vergonha numa coisa só; os esquimós não conhecem a ansiedade, enquanto os aborígines australianos distinguem quinze tipos de medo; os taitianos não têm o conceito de culpa nem (coincidência?) o de tristeza - e por aí vai.

Tudo nos leva a supor que uma discrepância semelhante também esteja presente entre o homem e a mulher. Ele e ela olham para o arco-íris e veem quase as mesmas cores, sentem quase as mesmas coisas - mas nunca será exatamente igual para os dois. Se eles souberem disso, viverão muito melhor.

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