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sábado, 23 de maio de 2009
23 de maio de 2009
N° 15978 - NILSON SOUZA
Roda de chimarrão
Meus amigos e familiares sabem que não podem contar comigo na hora do mate. Sou um gaúcho urbano, costumo dizer, como se o rótulo assumido me isentasse do ritual atávico e quase obrigatório da gente desta terra. Sei que não é bem assim.
O homem da cidade também sorve o seu amargo. Nossos parques e praças enchem-se todos os domingos de mateadores que nunca entraram num galpão de estância nem jamais viram uma vaca de perto. Mas aprenderam a chimarrear.
Eu, que passei a infância cercado por gente do campo, confesso que fiquei quase escandalizado quando vi pela primeira vez um mate de garrafa térmica. Agora, já me acostumei com isso. Ainda mantenho prudente distância daquele aparato movido a água quente, mas reconheço o seu poder de estimular conversas amenas e promover a camaradagem.
Estou lendo Dom Segundo Sombra, excepcional narrativa do argentino Ricardo Güiraldes (já estava com saudade de usar um trema), que enaltece o gaúcho tropeador e deixa nas entrelinhas uma indisfarçável aversão pelo ambiente urbano.
Clássico da literatura latino-americana, o livro poetiza a rudeza do homem do pampa – um personagem mítico, silencioso, valente e honrado.
Calejado pela aspereza da lida do campo, o herói de Güiraldes é também imensamente humano e generoso, sem almejar a perfeição. Pelo contrário, ama os riscos de uma vida errante, não teme a solidão, mas sabe ser sensível e solidário.
Ainda estou viajando com ele por descampados, fazendas e bolichos, mas já me deu vontade de compartilhar com os leitores deste espaço esta aventura mágica pelas nossas raízes campeiras.
Ler um livro tão representativo talvez seja como tomar chimarrão. Pode ser um prazer solitário, como o dos madrugadores que esquentam a chaleira na chapa do fogão e dividem a cuia apenas com os primeiros ruídos do dia.
Pode ser, também, como o mate de parceria, que se divide apenas com a pessoa amada. Mas o melhor – dos livros e dos mates – parece ser mesmo esta propriedade de unir pensamentos e sonhos de muitas pessoas.
Dom Segundo Sombra encanta por nos levar a um mundo de coisas simples e mágicas, como o milenar hábito de contar histórias ao pé do fogo. Aqueles homens primitivos que domam cavalos chucros e conduzem o gado por longas distâncias, dormindo ao relento e comendo carne quase crua, também são proseadores admiráveis e imaginativos.
Nós, os gaúchos urbanos, os que bebemos mate de garrafa térmica e os que nem a isso se atrevem, temos prazer em ouvi-los.
Assim, podemos participar da roda de chimarrão de nossa própria história.
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