segunda-feira, 18 de maio de 2009



18 de maio de 2009
N° 15973 - PAULO SANT’ANA


Os não diagnosticados

Acho que foi o Barão de Itararé que escreveu que o hospício é o quartel-general dos loucos.

Isto é uma verdade, os loucos sem diagnóstico andam soltos por aí. Há pessoas que convivem diariamente, em casa, no trabalho e nas ruas, com os loucos.

Mas nunca ninguém parou para pegar esses loucos de todo gênero e levá-los a um terapeuta para obter um diagnóstico. Agora, você imagina o que é conviver com loucos durante 10, 15, 20 anos?

Eu sei porque participo do programa Sala de Redação há 38 anos e o que já passou de louco por aquele programa não está no gibi.

Fora os que ainda lá permanecem.

O problema é o louco sem diagnóstico. Ele segue pela vida fazendo estragos porque acha que não é louco, pensa que é certo, normal.

Começa que ninguém é normal: 90% das pessoas têm no mínimo neuroses. E 90% das pessoas não sabem, nunca souberam nem nunca vão saber que têm distúrbios emocionais ou mentais.

Foi por isso, para não me igualar aos desregulados que não têm diagnóstico, que fui buscar um diagnóstico. E tive a coragem aqui numa coluna de declarar que eu era bipolar.

Bipolar é o cara que alterna a depressão com a euforia. Uma hora ele está para baixo, outra hora para cima. E o certo, nesta questão do humor, é estar exatamente no meio da linha vertical que tem a depressão num extremo e a euforia no outro.

O deprimido todo mundo conhece. O cara está arrasado, nada há que o anime ou alegre. Já o eufórico é o cara que tem superativadas as suas emoções. Ele é um emocional exagerado.

E vive de arroubos e explosões de alegria, comete nos gestos e nas palavras muitos exageros que se tornam de alguma forma agressivos para os seus circunstantes.

Em contraposição, também se extrema a criatividade no eufórico. Ele se torna mais imaginativo e inteligente. Só que o eufórico passa do limite e se torna socialmente inconveniente.

O ideal é o humor estar controlado, nem tão para baixo que beire a depressão – ou afunde nela – nem tão para cima que beire a expansividade – ou mergulhe nela.

Eu tomo remédio para a bipolaridade. De que adianta, se as pessoas com quem convivo não tomam remédio para seus distúrbios?

Ou seja, remédio para mim eu tomo, já estou diagnosticado. Mas como é que vou obter remédios para o enfrentamento, a fricção entre mim e os que não são diagnosticados?

Lá no Sala de Redação é assim, naquele serpentário só eu sou controlado por remédio. Existem vários outros que nunca foram monitorados por qualquer psicanalista ou psicólogo.

E eu, contido, fico assoberbado e cercado por vários ângulos pelos não diagnosticados. Em qualquer família ou círculo social restrito, todos têm de obter diagnóstico.

Caso contrário, corre-se o risco de o diagnosticado ficar pior do que os outros.

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