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sábado, 23 de maio de 2009
23 de maio de 2009
N° 15978 - PAULO SANT’ANA
Os serviços de intendência
É intrigante como, de repente, em menos de um segundo, as pessoas boas e normais se transformam em feras, contrariando toda a conduta reta que demonstraram em toda a sua vida.
Fiquei pensando insistentemente nisso quando li a história macabra do caminhoneiro que matou a facadas a jovem dentista na Rota do Sol.
Ele vinha seguindo o seu destino pela estrada, transportando no seu caminhão frutas e legumes.
De repente, segundo relatos, desentendeu-se no trânsito da estrada com a dentista, que dirigia o seu carro.
Ambos desceram para discutir e então se desatou uma série de acontecimentos que desgraçaram a vida dos dois protagonistas.
Segundo se sabe agora, o caminhoneiro era um homem devotado ao trabalho, cumpridor dos seus deveres, chefe de família exemplar. Enfim, um homem de quem jamais se poderia esperar a conduta de estupro assassino que ele desenvolveu em poucos minutos naqueles atos de delírio fatídico que se apossaram dele.
Não se sabe se o caminhoneiro se revestiu de ódio pela dentista na discussão que travou com ela ou se por uma fúria libidinosa de desejo quando a atacou, estuprou-a, amarrou-a em uma árvore, esfaqueou-a por seis vezes e, depois de lavar-se na pipa que estava instalada ao lado da cabina do caminhão, livrando-se assim das manchas de sangue de sua vítima, seguiu viagem, imaginando que prosseguiria impune na sua vida laboriosa de transportador de gêneros alimentícios.
Como pode um homem exato na sua vida profissional e familiar, uma existência inteira constituída de trabalho e dedicação à família, ver desatados dentro de si demônios furiosos que nem ele pressentia e que se ocultavam em sua alma?
Em apenas alguns minutos, pipocaram na psiquê desse homem instintos nunca antes revelados ou pressentidos na sua conduta.
Ou será que nós somos bons porque nunca se apresentou uma oportunidade para sermos maus?
Que diabo de vida é esta que pode nos pôr à prova em qualquer dia, desmentindo tudo o que obramos em apenas um instante de insanidade?
O caminhoneiro assassino e estuprador da dentista na Rota do Sol deve estar perplexo com o que ele fez. Se disser aos jurados e ao juiz que não poderia ter sido ele quem fez aquilo, não há razão para que não se acredite nele.
Analogamente, leio que em Santa Maria um capitão e um tenente do Exército furtavam durante anos gêneros alimentícios que deveriam ser consumidos pela tropa e os vendiam para supermercados locais.
Como pode dois oficiais de carreira mancharem assim os seus currículos, desviando do quartel material alimentício cujo valor total foi de cerca de R$ 800 mil em todos esses anos?
Está certo que, há sucessivos governos, os salários dos militares foram achatados miseravelmente, o que também deve ter contribuído para a prevaricação dos dois oficiais.
Mas quantos oficiais, sargentos e cabos atravessam essa maldição de parcos salários sem corromperem-se? Por que os dois oficiais estragaram assim lamentavelmente suas carreiras?
Meu pai, que também era militar, sempre me dizia que a honestidade de um militar só pode ser atestada se ele trabalhar nos serviços de intendência da caserna (o órgão que trata da compra e administração das provisões para a tropa) e não se corromper.
São demais e poderosas as tentações dos serviços de intendência.
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