sexta-feira, 29 de maio de 2009



Gaúchos, Erico, Grenal e anjos

Ao menos pelos próximos dez anos, por decisão da família, o Acervo Literário Erico Verissimo permanecerá no Rio de Janeiro. Os familiares disseram que no Rio há melhores condições de conservação. Não entro propriamente no mérito da questão, que é quase toda de caráter privado.

Mas o fato deve ser analisado do ponto de vista simbólico. Nós, gaúchos, infelizmente somos divididos demais, opiniáticos demais e muitas vezes não conseguimos conversar e unir-nos em torno de nossos interesses coletivos.

O resultado é que muitas vezes, diante de nossas desavenças e divisões, os do Mampituba para cima ou da fronteira da Metade-Sul para baixo acabam levando vantagem. Não sou, nunca fui e nem pretendo ser separatista. Não acho, também, que devemos nos bastar a nós mesmos e que não devemos dialogar em diversos níveis com os outros estados e com o resto do mundo.

Acontece que tantas e tantas vezes nossos líderes políticos, religiosos, empresariais, culturais etc não conseguem conversar minimamente e buscar entendimentos que beneficiem a todos, ou, ao menos, à maior parte da coletividade.

No caso do acervo de Erico, diálogos, esforços e união em torno do tema poderiam ter proporcionado final diverso para a questão. Esses tempos perguntei a um velho, querido e famoso artista gaúcho se ele era colorado ou gremista. "Sou Grenal.

Tenho amigos nos dois clubes e já fui homenageado por ambos. Gosto dos dois", disse ele. Nem todo mundo pode pensar assim e a ideia de unir os dois times é coisa para o quarto milênio, se for o caso, e com nome de Inter, mas, acho, que mesmo mantendo nossa cultura chimango x maragato, cidade x praia etc, é possível buscar mais aproximações, consensos e uniões que nos favoreçam.

Se seguirmos tão divididos, desunidos e individualistas, nossas empresas, nossas terras, nossos símbolos, nossa cultura e nosso dinheiro vão parar nas mãos de outros. Não tenho nada contra os outros, contra negócios, competência, globalização, livre iniciativa e coisa e tal, mas acho, sinceramente, que podemos nos juntar para muita coisa boa e para manter em nossas mãos o que levamos, não raro, séculos para conquistar.

Não somos anjos, somos humanos, ambiciosos e egoístas, mas é bom lembrar que, ao fim e ao cabo, quando temos a felicidade de sermos ou estarmos anjos, somos anjos de uma asa só e precisamos do próximo para voar nos céus deste Rio Grande amado.

Jaime Cimenti - Uma ótima sexta-feira e um Feliz fim de semana - Para você minha amiga que tudo esteja bem

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