terça-feira, 26 de maio de 2009



26 de maio de 2009
N° 15981 - LUÍS AUGUSTO FISCHER


O velho Freud e um neologismo

Osenhor e eu, usuários destemidos do português culto, usamos “acessar”, o verbo, ultimamente, confere? Coisa de uns anos para cá ele passou a ser costumeiro em nosso vocabulário; como todo neologismo em boca de gente letrada, primeiro demorou a ser aceito, mas, dada a sua força descritiva, a sua presença marcante, cá estamos nós acessando conteúdos na internet, esse mundo sem fim, esse saco sem fundo.

Fiquei um pouco estranhado ao ler o verbo num belo ensaio sobre Freud, o próprio, assinado por Edson Sousa e Paulo Endo, um dos volumes da ótima coleção da L&PM agora lançada, com o elegante nome de Encyclopaedia – coleção de livros pequenos e diretos ao ponto, sobre temas de interesse geral como Budismo, A crise de 29 ou Santos Dumont. Estranhado e feliz: o verbo casou perfeitamente com o conteúdo envolvido.

É uma altura do ensaio em que se relata a passagem que Freud fez da hipnose para a psicanálise, quando ele se dá conta de que pode – aqui o verbo – acessar conteúdos depositados nas profundezas do inconsciente mediante associação livre, não mais mediante suspensão da consciência.

Freud combina com o neologismo, porque, cá entre leigos interessados, não é exatamente disso que trata a psicanálise? Sim, é isso: a obra do grande pensador e cientista do homem nos permite acessar conteúdos e formas por um lado inusitado, que causou muita resistência mas que hoje entra em casa de família.

E entre os méritos não pequenos do livro agora editado está o de oferecer, ao lado de um sumário de sua vida e obra, uma série de pequenas e valiosas indicações de leitura, capazes de proporcionar ao iniciante um roteiro de estudos e de leituras inteligentes.

Escrito com erudição sempre fluente, de leitura rápida e instrutiva, sem abrir mão de apontar as complexidades da obra e da vida do grande pai da psicanálise, o trabalho de Edson Sousa e Paulo Endo dá muita atualidade à presença de Freud e de sua obra na vida culta de nosso tempo, seja no campo profissional da psicanálise, seja nos mais amplos ambientes da crítica da arte e da literatura, assim como na arena do debate político, que os autores fizeram questão de enfatizar como sendo um dos ramos de interesse do autor.

Em particular, vale sublinhar que o ensaio tem bastante documentação em cartas de e para Freud, material que com o passar do tempo tem ficado cada vez mais interessante como, olha aí a palavra de novo, via de acesso à genial criação freudiana.

- P.S: saiu sem o devido alarde uma bela publicação do Jardim Botânico de Porto Alegre, que completou meio século de vida no ano passado.

Com fotos e textos, o material deve fazer a festa de muitos leitores e amantes daquele oásis urbano, cada vez mais importante. Para contatos, sugiro, bem, acessar o pessoal pelo e-mail jbotanico@fzb.rs.gov.br.

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