sábado, 2 de maio de 2009



03 de maio de 2009
N° 15958 - PAULO SANT’ANA


A gripe espanhola

Vem aí esta gripe suína, e eu espero enfrentá-la com a mesma coragem com que me submeti a inúmeras epidemias durante toda a minha vida.

Lembro-me bem da vez primeira em que apanhei caxumba, uma infecção nas parótidas que provocava inchaço nos dois lados do rosto.

A epidemia da caxumba em Porto Alegre era tão disseminada, que se podia ver nas ruas as pessoas todas com panos atados ao rosto, era uma imensa procissão de doentes.

Dizia-se com muita autoridade que a cachumba “recolhida” se transmitia nos homens até o saco escrotal, um terror percorria as rodas de rapazes infectados.

Das epidemias de sarampo e varicela, sobrevivi com muitos dias recolhido ao leito. O sarampo era uma febre que espalhava bolas rosadas por todo o corpo.

Mal éramos atingidos, quando crianças, pelos primeiros sintomas de sarampo e varicela, e logo nos submetiam a um constrangido isolamento familiar e social, começando por sermos proibidos de comparecer ao colégio.

A mesma coisa com a catapora. A exemplo da varicela, se caracterizava por bolhas pustulentas espalhadas pelo corpo. O que se temia é que as marcas dessas doenças permanecessem para sempre em toda a extensão da pele. Ainda hoje vejo pessoas com essas marcas indesejáveis.

Tinha também a rubéola, terrível doença que matava ou atingia gravemente a visão de crianças e bebês.

Mas talvez a mais extensa e duradoura epidemia que se alastrou sobre Porto Alegre, nos anos 40 e 50, foi a da coqueluche: tratava-se de uma doença respiratória, causada por uma bactéria, cujo sintoma principal era uma tosse intensa, convulsa, arrastada.

Porto Alegre inteira foi tomada pela coqueluche. Eram raras as pessoas que não tiveram a doença, em todas as partes, nos cinemas, no trabalho, nas aglomerações sociais, viam-se pessoas com severos ataques de tosse, parecendo macacos catarríneos.

Foi tão extensa a epidemia de coqueluche em Porto Alegre, acredito que em todo o Brasil, que a palavra até hoje é usada para caracterizar pessoa, coisa ou hábito que momentaneamente desfruta de preferência popular. Exemplo: “O pagode é uma coqueluche nas casas de samba”.

Já tive, na infância, todas essas doenças. Só não tive a febre amarela porque eu não existia, em 1889, no verão, quando ela matou 3% da população da cidade de Campinas. E durante muitos anos não atracavam nos portos brasileiros navios vindos do estrangeiro por causa da febre amarela que atacou o Rio de Janeiro e outras capitais.

Ou quando, em 1918 e 1919, o mundo inteiro foi atacado pela gripe espanhola, que se calcula tenha atingido 50% da população do planeta, tendo sido mortos de 20 a 40 milhões de pessoas. Só não sendo maior este número porque não se sabe quantos morreram na China e na Índia.

Um presidente da República brasileiro, Rodrigues Alves, foi morto pela gripe espanhola.

Uma calamidade, a maior de todas as calamidades de saúde na Terra.

Agora vem a gripe suína ameaçar o mundo. Não se sabe por que se atribui sua origem ao México. Tanto a sua origem é incerta quanto suas consequências.

Dizem que o vírus circulava entre os porcos, mas é estranho que os porcos não morram nem sequer adoeçam por esta gripe suína.

Houve pacientes nos EUA que se recuperaram sem tratamento, enquanto que no México muitos desenvolveram pneumonias severas e até morreram.

Quando no estágio inicial, conhece-se que remédios como o Tamiflu e o Relenza são eficazes na cura. Mas a mais terrível especulação científica é a de que o vírus da terrível gripe espanhola esteja relacionado com o vírus da gripe suína.

É por causa dessa especulação que a gripe suína está causando alarma entre as autoridades mundiais de saúde.

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