sábado, 2 de maio de 2009



02 de maio de 2009
N° 15957 - CLÁUDIA LAITANO


Ranking

Se o Brasil fosse bom em educação como é em futebol, talvez fôssemos pentacampeões em Prêmio Nobel em vez de Copa do Mundo. Parece sacanagem comparar Susan Boyle com Gisele Bündchen, mas é mais ou menos essa a distância entre nosso maior orgulho e nossa maior vergonha – um abismo tão grande que é difícil imaginar, sequer como ficção científica, o dia em que um brasileiro será saudado no Exterior com um rol de nomes de cientistas famosos em vez da escalação completa da Seleção.

O Enem é uma lanterninha dentro de uma sala escura, mas já é alguma coisa: um esforço concreto para colocar sobre a mesa dados sobre a educação em vez de palpites. Estabelecendo uma rotina de avaliação da qualidade das escolas, o Exame Nacional do Ensino Médio, realizado desde 1998, está ajudando a construir um mapa das instituições de ensino do país – o que, espera-se, seja usado não apenas para diagnosticar que o doente passa mal, mas também para ajudá-lo a sair da UTI.

Em breve, o Enem vai passar a valer como processo seletivo para o ingresso nas universidades federais, o que deve afetar drasticamente o interesse dos alunos pelos exames. O que começou “às brincas”, como uma prova opcional realizada em apenas cem cidades do país e com pouco mais de 150 mil inscritos, a partir deste ano passa a ser “às ganhas”, com mais questões e valendo como vestibular unificado para até cinco universidades.

Feitas as devidas observações a respeito da importância do Enem, cabe lembrar que os resultados do exame não podem ser analisados de forma apressada ou distorcida. Insistindo na comparação entre futebol e educação, digamos que o ranking das escolas tem despertado, às vezes, um certo clima de final de campeonato – infelizmente, não um campeonato de futebol europeu, cheio de craques e equipes bem preparadas, mas como um disputado torneio da segunda divisão.

Diante da evidência numérica de que as notas médias dos alunos são baixas, mais acentuadamente nas escolas públicas mas também nas particulares, há um descabido clima de euforia entre as escolas que ocupam o topo do ranking. Descabido, em primeiro lugar, porque esses resultados, da maneira como o Enem tem sido aplicado até agora, com algumas escolas com vários alunos fazendo a prova e outras com pouco mais de uma dúzia de inscritos, permite muitas distorções nos números, para cima e para baixo.

Em segundo, porque o fato de uma escola destacar-se no Brasil nem de longe significa que ela pode deitar-se tranquila sobre as láureas recebidas – assim como o melhor time de futebol dos Estados Unidos talvez não tivesse a mesma sorte disputando o campeonato gaúcho.

Acima de tudo, o Enem não deveria criar a falsa impressão de que a qualidade de uma escola pode ser medida apenas pela média das notas dos seus alunos. Não que esse seja um critério a ser desprezado, claro que não, mas uma escola tem outros desafios além de produzir alunos que assimilam bem os conteúdos da sala de aula – e um deles é contar com a confiança dos pais para todos os assuntos, não apenas os pedagógicos. Crianças e adolescentes, em geral, adaptam-se com facilidade a qualquer escola, fazem amigos, criam laços.

Já os pais que colocam os filhos em uma escola com valores com os quais eles não se indentificam, esteja ou não no topo de algum tipo de ranking, correm o risco de estar pagando (ou não) para se incomodar no futuro.

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