terça-feira, 6 de novembro de 2007



POLITICAMENTE INCORRETA?

Afinal, quem é Camille Paglia, a mulher que falará quinta-feira em Porto Alegre? Por que ela provoca tanta confusão? Ela se tornou uma celebridade fazendo oposição ao politicamente correto.

No Brasil, onde as mulheres ainda não têm sequer o direito de interromper, nos limites de uma lei razoável, uma gravidez indesejada, Camille Paglia surgiu como uma voz poderosa na luta contra os valores conservadores. O politicamente correto pode ser visto por vários ângulos.

Na França, aparece como um novo sintoma do puritanismo norte-americano, uma espécie de nova investida reacionária contra a liberação gerada por maio de 1968.

Nos Estados Unidos, o politicamente correto é odiado justamente por conservadores que vêem nele o poder excessivo de minorias repulsivas ou ressentidas. Quem tem razão?

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Camille Paglia detonou o sistema comportamental norte-americano como um todo: 'A educação universitária de elite nos Estados Unidos virou uma indústria comercial frenética, um espetáculo repulsivo de esnobismo de marca e materialismo explícito.

Pais que pagam mais de 40 mil dólares ao ano por um diploma de Harvard para seus filhos estão ávidos por status, mas não há evidência de que a educação em Harvard seja superior à de centenas de outras boas universidades'.

É um petardo capaz de atingir brasileiros que se julgam superiores por terem sentado em bancos de Harvard. Paglia foi além: 'O pensamento independente foi universalmente silenciado ou isolado.

Eu sou persona non grata em quase todos os campi no país e leciono em uma pequena faculdade de artes. A educação universitária está cada vez mais estéril por causa da autodestruição das ciências humanas desde os anos 70'.

Seria interessante submeter ao julgamento de Camille Paglia a afirmação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, em defesa do aborto, de que as mulheres das favelas são fábricas de marginais.

Ele disse que as mulheres ricas praticam aborto em clínicas clandestinas e que a zona Sul do Rio de Janeiro tem índices de natalidade comparáveis aos de países europeus de primeira linha, enquanto as favelas apresentam taxas africanas. Foi 'linchado'. Acusaram-no de ignorância, racismo, falta de sofisticação, sexismo e de eugenia.

Será que Sérgio Cabral foi vítima do politicamente correto brasileiro? Na verdade, a polemista explora os efeitos perversos provocados pelos excessos. Apaixonada pela cultura clássica, denuncia uma queda vertiginosa provocada pela cultura de massa.

No centro da suas preocupações está a demagogia cultural dominante pela qual o lúdico deve prevalecer sob o esforço pessoal, levando a que não se possa avaliar ou cobrar resultados. Retorno da velha elite com novas roupas?

Não é tão simples assim. Ela mesma se defende alegando que as suas posições em favor da pornografia, do aborto, da prostituição e da liberação das drogas nada têm de conservadoras nem mesmo de neoconservadoras.

Ela se recusa a ser catalogada à direita ou à esquerda e pretende ser apenas uma livre-pensadora. A arte ensinou-lhe a duvidar de certeza e permanências.

Tudo muda, tudo passa, menos a necessidade de tolerância e de conhecimentos sólidos para tentar melhorar o mundo. Resta saber se a solidez das suas idéias não se desmancha no lamaçal das suas contradições e do seu gosto pelo espetáculo autopromocional, por supuesto!

juremir@correiodopovo.com.br


POLITICAMENTE INCORRETA?

Afinal, quem é Camille Paglia, a mulher que falará quinta-feira em Porto Alegre? Por que ela provoca tanta confusão? Ela se tornou uma celebridade fazendo oposição ao politicamente correto.

No Brasil, onde as mulheres ainda não têm sequer o direito de interromper, nos limites de uma lei razoável, uma gravidez indesejada, Camille Paglia surgiu como uma voz poderosa na luta contra os valores conservadores. O politicamente correto pode ser visto por vários ângulos.

Na França, aparece como um novo sintoma do puritanismo norte-americano, uma espécie de nova investida reacionária contra a liberação gerada por maio de 1968.

Nos Estados Unidos, o politicamente correto é odiado justamente por conservadores que vêem nele o poder excessivo de minorias repulsivas ou ressentidas. Quem tem razão?

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Camille Paglia detonou o sistema comportamental norte-americano como um todo: 'A educação universitária de elite nos Estados Unidos virou uma indústria comercial frenética, um espetáculo repulsivo de esnobismo de marca e materialismo explícito.

Pais que pagam mais de 40 mil dólares ao ano por um diploma de Harvard para seus filhos estão ávidos por status, mas não há evidência de que a educação em Harvard seja superior à de centenas de outras boas universidades'.

É um petardo capaz de atingir brasileiros que se julgam superiores por terem sentado em bancos de Harvard. Paglia foi além: 'O pensamento independente foi universalmente silenciado ou isolado.

Eu sou persona non grata em quase todos os campi no país e leciono em uma pequena faculdade de artes. A educação universitária está cada vez mais estéril por causa da autodestruição das ciências humanas desde os anos 70'.

Seria interessante submeter ao julgamento de Camille Paglia a afirmação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, em defesa do aborto, de que as mulheres das favelas são fábricas de marginais.

Ele disse que as mulheres ricas praticam aborto em clínicas clandestinas e que a zona Sul do Rio de Janeiro tem índices de natalidade comparáveis aos de países europeus de primeira linha, enquanto as favelas apresentam taxas africanas. Foi 'linchado'. Acusaram-no de ignorância, racismo, falta de sofisticação, sexismo e de eugenia.

Será que Sérgio Cabral foi vítima do politicamente correto brasileiro? Na verdade, a polemista explora os efeitos perversos provocados pelos excessos. Apaixonada pela cultura clássica, denuncia uma queda vertiginosa provocada pela cultura de massa.

No centro da suas preocupações está a demagogia cultural dominante pela qual o lúdico deve prevalecer sob o esforço pessoal, levando a que não se possa avaliar ou cobrar resultados. Retorno da velha elite com novas roupas?

Não é tão simples assim. Ela mesma se defende alegando que as suas posições em favor da pornografia, do aborto, da prostituição e da liberação das drogas nada têm de conservadoras nem mesmo de neoconservadoras.

Ela se recusa a ser catalogada à direita ou à esquerda e pretende ser apenas uma livre-pensadora. A arte ensinou-lhe a duvidar de certeza e permanências.

Tudo muda, tudo passa, menos a necessidade de tolerância e de conhecimentos sólidos para tentar melhorar o mundo.

Resta saber se a solidez das suas idéias não se desmancha no lamaçal das suas contradições e do seu gosto pelo espetáculo autopromocional, por supuesto!

juremir@correiodopovo.com.br

Excelente terça-feira com sol de preferencia para todos nós.

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