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terça-feira, 6 de novembro de 2007
06 de novembro de 2007
N° 15410 - Liberato Vieira da Cunha
A primeira Feira do Livro
Sou um dos raros sobreviventes da primeira Feira do Livro de Porto Alegre.
Ocorre que naquele ano de 1955 meu pai era secretário estadual de Educação e Cultura. Um seleto grupo de cavalheiros marcou uma audiência com ele, tendo à frente Say Marques e Maurício Rosenblatt. Incertos da acolhida, expuseram com um traço de timidez seu projeto.
Tratava-se de levar a literatura ao encontro dos leitores sob os jacarandás floridos da Praça da Alfândega. A SEC estaria disposta a dar-lhes apoio?
O dr. Liberato Salzano, que os ouvira calado, disse que sim, mas com uma condição: ele queria ser o orador da inauguração da mostra. A delegação deu um uníssono suspiro de alívio. Havia ido em busca de um aliado e encontrara um cúmplice.
O discurso que meu pai fez na abertura das barracas foi um dos mais inspirados de sua vida breve. Dizia em síntese que não há democracia sem cultura.
Mas ele não se limitou a ler as três páginas datilografadas nesta máquina Royal portátil que me espreita agora da estante. Confraternizou com o público, os editores e os livreiros, comprou obras de sua especial predileção. E tendo levado à solenidade a minhas irmãs e a mim, convidou-nos a imitá-lo.
Eu era um guri de 10 anos. Desde então nunca esqueci as poucas e acanhadas barracas, os livros que comprei, a cerimônia que logo se converteu num encontro afetuoso de amantes da leitura.
As barracas estão hoje de volta à praça. A cada vez que a percorro, agora monumental, estendendo-se da antiga Cinelândia, onde tudo começou, aos armazéns do porto, não deixo de recordar o princípio, que já me parece datado de uma existência anterior.
E lembro ainda o dia em que autografei ali o meu primeiro livro. Havia uma fila grande, gentileza de amigos, mas o que eu via mesmo era outro cenário.
Um jovem secretário de Educação dizendo que não há democracia sem cultura. Estou inclinado a crer que ele tinha razão.
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