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segunda-feira, 12 de novembro de 2007
12 de novembro de 2007
N° 15416 - Paulo Sant'ana
O mesmo caldeirão
O trágico no filme Tropa de Elite é que não há escapatória para ninguém: nem para os bandidos, nem para os policiais.
Os policiais, ou pecam por omitir-se, ou pecam por corromper-se, ou pecam por matar e torturar. A ninguém é oferecida uma saída mais digna.
Comove o drama do oficial PM que estuda Direito. Ele é que tem de esconder na universidade a sua condição de policial, como se fosse um estigma.
Ou seja, o policial torna-se um foragido dentro da sociedade. E sua verdadeira identidade profissional vira uma vergonha. E também condição temerária, corre paradoxalmente risco de vida um policial que for descoberto como tal na faculdade.
E lá na corporação o seu drama é ainda maior. Tromba, no alvorecer de sua carreira idealista, com uma sólida estrutura de corrupção, restando-lhe o dramático dilema de ceder ou de espatifar-se contra os rochedos rudes da perseguição e do desprezo.
É um filme nauseante, como toda obra que pretende ser realista.
Não há saída para todo o elenco de personagens, policiais, bandidos, consumidores de drogas, estão todos eles condenados por uma sentença moral que acaba atingindo a inteireza do meio social, fervidos no mesmo caldeirão ético junto com seus colegas, comparsas e familiares.
Ninguém consegue dormir à noite, presa da sua consciência, há uma competição para distinguir-se quem são os mais acuados, se os bandidos ou os policiais.
Em última análise, o filme remete o espectador para a reflexão de que a polícia, assim como a política, apesar das sérias e graves perversões que as enlameiam, são fundamentais para o bem comum, é impossível contorná-las na direção do bem-estar social.
E à saída do cinema se percebe que no frontispício do filme há um grande ensinamento sobre comportamento: a maioria das ações corruptas não se origina no caráter das pessoas e sim nas situações em que elas se encontram.
Passando para um assunto mais leve, dificilmente uma casa noturna consegue reunir um elenco de tantos músicos e cantores mais talentosos como ostenta o Marrocos 860, na Rua Venâncio Aires:
o pianista Adão Pinheiro, o violonista Joel Morais, a cantora Valquíria Rosa, o baixista Tenison Ramos e o incomparável Jorginho do Trompete.
A noite porto-alegrense resiste bravamente à sua extinção e ainda há na cidade várias ilhas de encantamento musical.
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