Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 3 de novembro de 2007
04 de novembro de 2007
N° 15408 - David Coimbra
A apavorante história do goleiro Diana
O cachorro do Ricardinho era igual ao Ricardinho.
Ambos pequenos, retacos e invocados. Se naquela época eu já tivesse visto um indiano, diria que o Ricardinho parecia um indiano. Tinha cabelos lisos e pretos, e a tez daquela cor escura e indefinida dos indianos, algo meio cinza-chumbo.
O cachorro dele, o Bóbi, era um fox manchado de preto e branco, brabíssimo, estava sempre rosnando e arreganhando aquelas presas afiadas dele. Se o Ricardinho mandasse:
- Mata, Bóbi!
Se ele dissesse isso com aquela sua voz de Ricardinho, e apontasse com o indicador para um pobre coitado, Gesubambino!, o Bóbi se enfurecia e botava-se no tal pobre coitado, sôfrego por sangue, ávido por rasgar carnes e dilacerar nervos e mastigar vesículas humanas.
A vítima preferida do Ricardinho era o Diana. Os dois moravam no mesmo prédio, lá no IAPI. O Diana também tinha um cachorro parecido com ele.
Uma cadela, na verdade. A Diana. Aliás, você já deve ter adivinhado, foi por causa da Diana que apelidamos o Diana de Diana.
A Diana era uma vira-lata simpática, muito dada, carinhosa, só que covarde. Corria de medo de gato de barata, de tudo que se movesse.
O Diana era um bom amigo, divertido, engraçado e, bem, não se podia dizer que fosse exatamente um bravo. Até porque não era muito grande, nem muito forte. Era normal.
Volta e meia, o Ricardinho, só por diversão, açulava o Bóbi contra o Diana. O Diana corria, gritando por socorro, e só se salvava ao entrar em algum edifício e trancar a porta da frente. O Ricardinho rolava de rir, vendo o desespero do Diana.
Os dois, o Ricardinho e o Diana, jogavam muito. O Ricardinho na ponta-esquerda; o Diana pegava no gol. O Ricardinho era rápido, tinha um drible curto e um rifle na canhota. O Diana era espalhafatoso, fazia pontes acrobáticas e jogava narrando o joguinho.
- Defesa es-pe-ta-cu-laaaaar do goleiro Henrique!!! Henrique, sempre Henrique, porque o Diana detestava o apelido de Diana.
Um dia, houve um pênalti que os colocou frente a frente, o Ricardinho e o Diana. Era a final de um campeonatinho de futebol de salão na cancha da Amovi, a Associação dos Moradores da Vila. O time do Ricardinho, muito graças à canhota habilidosa dele, foi ganhando todas e chegou à decisão.
O Diana nem era para estar naquele jogo, o time dele fora desclassificado. Mas, por algum motivo, acho que o outro goleiro se machucou, chamaram-no para aquela única partida, justamente a final.
Aí aconteceu o pênalti. O Ricardinho ia bater. O Diana postou-se debaixo do travessão, joelhos flexionados, braços abertos. O jogo estava no finzinho. Se fosse gol, o time do Ricardinho seria campeão. Se o Diana pegasse, seria o time do Diana.
O Ricardinho tomou a bola. Nesse momento, poucos viram, eu vi: o Bóbi posicionou-se ao lado da trave, ameaçador. O Ricardinho sorriu e apontou com o olhar para o cachorro.
O Diana virou-se e olhou a fera. Engoliu em seco, a cara mais aflita do mundo. Estava tudo muito claro: se o Diana ousasse defender o chute, o Ricardinho ia atiçar o Bóbi sobre ele. E ali, na cancha fechada da Amovi, não haveria escapatória: o Bóbi ia trucidar o Diana.
O Diana arregalou os olhos. Notei, pela sua postura, que se desconcentrou. Nem olhava mais para a bola. Compreensível: ele nem jogava naquele time, por que se arriscar? Tive a certeza de que iria deixar a bola entrar.
E, de fato, quando o Ricardinho chutou e saiu aquele míssil do pé esquerdo dele, o Diana deu um passo para o lado, querendo abrir o gol o mais que pudesse. Só que... a bola foi exatamente na direção do Diana, acertou-lhe a testa.
O Diana caiu para dentro do gol e a bola para fora. O time do Diana ganhou o campeonatinho.
Por alguns segundos, o Ricardinho ficou olhando para o Diana, incrédulo, enquanto o Diana, no fundo do gol, caído na rede, olhava-o de volta, ainda mais incrédulo. Então, o Ricardinho rilhou os dentes. Fitou o Bóbi. E ordenou:
- Mata, Bóbi! O Diana, todo enredado, abriu a boca de pavor e gritou, como que implorando perdão: - Nãããããããããão...
O Bóbi entesou, começou a rosnar, virou-se para o Diana, babando de ódio. Foi se aproximando, foi se aproximando com aquela boca bem aberta e ia saltar sobre ele, quando, feito a Sétima Cavalaria, feito o Super Pateta, feito o Batfino, a Diana acudiu. A Diana!
Transformada em uma onça, a cadelinha pulou na traseira do fox e o mordeu com tamanho denodo e o surpreendeu de tal forma, que o Bóbi saiu correndo e ganindo, como um rato.
A Diana salvou o Diana! Depois daquilo, nos nossos joguinhos, o Diana não vacilava. Em qualquer intervenção gritava, orgulhoso:
- Defesa es-pe-ta-cu-laaaaaar do goleiro Diana!!!
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