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sábado, 3 de novembro de 2007
03 de novembro de 2007
N° 15407 - Cláudia Laitano
Fantasminha camarada
Todas as histórias de amor deveriam começar pelo fim. O desenlace de um relacionamento amoroso, como o último parágrafo de um romance, pode mudar radicalmente a leitura de tudo que houve antes. No amor, os fins iluminam os meios.
Mesmo no tempo em que os casamentos duravam 120 anos, era o final da história que distinguia um bom casamento de um casamento apenas longo.
Um casal um dia apaixonado pode terminar seus dias atormentando-se mutuamente ou ainda desfrutando a companhia um do outro. E tanto um epílogo quanto o outro definem o que foi o amor - ou o que não conseguiu ser.
Em relacionamentos que não duram uma vida inteira, mas são suficientemente intensos para deixar marcas perceptíveis, encerrar um capítulo amoroso é ainda mais delicado.
Exatamente porque nenhuma separação é fácil, enfrentá-la com dignidade mobiliza todas as energias de bom senso disponíveis. Poucas situações são tão reveladoras do caráter e da maturidade quanto a que coloca duas pessoas outrora íntimas em uma situação de rompimento.
A tentação de agir de forma egoísta é enorme, quase irresistível - como se o último bote do Titanic estivesse passando à frente, e a sobrevivência dependesse da capacidade de não pensar em mais ninguém.
Todos conhecem histórias de pessoas perfeitamente razoáveis que se atrapalharam na hora de terminar um casamento - brigando pela casa, pelo dinheiro, pelos filhos ou simplesmente desfrutando o prazer mórbido de se fazer presente na vida do outro como um espectro raivoso.
Um casamento que termina junto com o respeito e um mínimo de cordialidade é um casamento que deu errado, um encontro infeliz entre pessoas que não conseguiram encontrar um idioma comum em um momento de crise - malbaratando as boas memórias e penalizando os espectadores mais frágeis desse espetáculo, os filhos.
Mas nem sempre uma história de um amor que termina é o relato de um fracasso. No outro extremo dos sentimentos que se transformam em ódio ou indiferença, há o amor que vira uma espécie de fantasminha camarada - uma criatura nova, desencarnada do papel original, mas nem por isso maligna.
Vai-se o romance, fica o sentimento - reciclado, mas nem por isso menos profundo. Quando isso acontece, pode-se dizer que o amor deu certo - cumpriu o ciclo de todas as coisas vivas e se transformou.
Esse "amor depois do amor", raro na vida real, também não é comum na ficção - que obviamente prefere as grandes paixões. O escritor argentino Alan Pauls tentou contar essa história no romance O Passado, levado para o cinema agora pelo diretor Hector Babenco.
"A separação também pode ser parte de uma história de amor", anuncia o trailer. O filme, infelizmente, acaba fazendo um desvio para a perspectiva masculina mais banal, mostrando as mulheres como criaturas desvairadas e sufocantes.
Descontado o viés misógino, inegável, o filme tem o mérito de retratar o enorme desafio que é colocar o ponto final em uma relação amorosa com a devida solenidade - honrando o passado sem que isso signifique abrir mão do futuro.
Luciano Trigo tem um livro chamado Todas as Histórias de Amor Terminam Mal. Mas isso talvez não seja uma maldição, mas um lamento. Se terminou vergonhosamente mal, o mais provável é que nunca tenha sido amor.
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