10 DE ABRIL DE 2020
CAPA
Beatles, um sonho sem fim
Em 10 de abril de 1970, Paul McCartney anunciava o fim da banda que segue tocando diferentes gerações
Quando Paul McCartney resolveu lançar o seu primeiro disco solo, preparou uma autoentrevista para divulgação à imprensa. Uma das perguntas era se planejava um novo disco com os Beatles. A resposta foi um sucinto não. Questionado se ele e Lennon voltariam a compor juntos, respondeu com outro não. McCartney seria lançado no dia 17 de abril de 1970, mas a "entrevista" foi publicada no dia 10, no jornal britânico Daily Mirror. Na manchete, em letras garrafais, a hecatombe para os fãs: "PAUL ESTÁ SAINDO DOS BEATLES".
Na verdade, a banda já vinha em processo de dissolução. Em setembro de 1969, John Lennon afirmou aos outros integrantes que estava fora. A saída dele só não foi divulgada para não atrapalhar as vendas do disco Abbey Road e outros projetos em andamento. No ano seguinte, a notícia ainda permanecia em sigilo, também por conta de Let it Be, álbum gravado antes de Abbey Road, engavetado e que finalmente estava para ser lançado.
Antes de Lennon e McCart- ney, Ringo Starr e George Harrison saíram brevemente do grupo em brigas pontuais. As relações entre eles passaram a se estremecer a partir da morte do empresário Brian Epstein, em 1967. Lennon se isolava com Yoko Ono e McCartney mostrava- se extremamente controlador. A dupla de compositores principais discordava dos rumos criativos e financeiros dos Beatles - McCartney era contra a contratação do empresário Allen Klein, sugerida por Lennon.
Coube a McCartney, há exatos 50 anos, decretar o fim da banda que havia conquistado o mundo e revolucionado a música e a cultura pop em menos de 10 anos de atividade. De qualquer maneira, o sonho não acabou, como Lennon cantou em God, do disco John Lennon/Plastic Ono Band (1970).
É como se os Beatles estivessem sempre por aí. Suas músicas atravessam anos e gerações, seja com sua discografia, nos relançamentos especiais - o mais recente é a versão comemorativa dos 50 anos de Abbey Road, em 2019 - ou nas bem-sucedidas carreiras solo de seus quatro integrantes - Lennon morreu em 1980, e Harrison, em 2001.
Legado
Para o cantor beatlemaníaco Beto Bruno, ex-integrante da Cachorro Grande, a presença dos Beatles nos dias de hoje se dá com a inovação e a qualidade das músicas que o grupo produziu.
- Nunca mais teve nada parecido na indústria musical. Os Beatles elevaram o rock and roll ao nível de arte. São pioneiros em tudo o que envolve o circo da música pop. As músicas soam perfeitamente bem até hoje - destaca. - Se você for num show do Paul hoje, a resposta está lá: é avô, pai e filho. É um amor que passa de geração para geração.
Integrante do grupo Graforreia Xilarmônica e coordenador do curso de produção fonográfica da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o músico Frank Jorge destaca que o quarteto foi muito oportuno em gerar uma sonoridade nova, nos anos 1960, a partir da influência de vários gêneros de música popular, como country e soul. Destaca também que os quatro integrantes eram ótimos instrumentistas e se completavam em termos de timbres vocais.
- Do ponto de vista temático, também foram oportunos ao se direcionarem a um público jovem. Não deixaram de olhar depois para a sociedade e os problemas sociopolíticos - explica Frank.
Marco Antonio Mallagoli, 67 anos, é fundador do fã- clube Revolution, que opera desde 1979, em São Paulo. Ele destaca que o grupo "continua na ativa" devido à consistência de seu poder musical.
-As inovações tecnológicas que fizeram foram muito grandes. Tem bandas até hoje copiando eles, mas que não conseguem tirar o mesmo som - avalia o fã.
Também morador da capital paulista, Luiz Antônio da Silva é presidente do fã-clube Beatles Cavern Club, fundado em 1977. Aos 67 anos, se apresenta como beatleamaníaco em tempo integral e diz que seu celular é um "disque Beatles", pois está sempre disponível para falar sobre a banda. Para ele, o quarteto segue relevante até hoje pelo seu "carisma e magnetismo":
- São pessoas simples que alcançaram sucesso. As letras deles sempre foram bem trabalhadas. Isso sempre caiu no coração das pessoas que gostam de coisas boas. Se você ouvir um disco deles hoje, vai perceber isso. É tudo bem feito, tudo legal - pontua Luiz.
WILLIAM MANSQUE
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