terça-feira, 28 de abril de 2020



28 DE ABRIL DE 2020
+ ECONOMIA

Mercado compra permanência de Guedes "por enquanto"

O debate público sobre a permanência do ministro da Economia avançou tanto que, na manhã de ontem, Bolsonaro resolveu encenar um "dia do fico" na saída do Palácio da Alvorada. Ao lado do único superministro restante no governo, Bolsonaro afirmou que "o homem que decide a economia no Brasil é um só: chama-se Paulo Guedes".

O mercado financeiro, que se preparava para mais perdas, respirou aliviado. A bolsa recuperou 4,09% do tombo de 5,45% de sexta-feira e o dólar, que chegou a R$ 5,72 durante o dia, fechou quase estável, a R$ 5,66. Guedes deixou claro que outras influências na condução estão afastadas:

- Queremos reafirmar a todos que acreditam na política econômica que ela segue a mesma.

Embora a sinalização tenha sido poderosa, não basta. Se de fato quer manter Guedes, o presidente terá de demonstrar o compromisso na prática. Caso isso ocorra, o Pró-Brasil pode não passar do rascunho que foi.

Outra frase segue no radar de investidores. Foi dita pelo agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, às vésperas de sua demissão: - Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente.

- Por enquanto, fica tudo como está. Mas a imprevisibilidade do presidente gera dúvida. Pode durar bastante ou uma semana - pondera Newton Rosa, economista-chefe da SulAmerica Investimentos.

Além de Guedes, Bolsonaro posou com os ministros da Agricultura, Tereza Cristina, e da Infraestrutra, Tarcísio de Freitas, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Os três são vistos por empresários e economistas como o time racional. São reserva de confiança. Se não mudar de ideia, o presidente compra algum tempo.

Embraer vai a tribunais e aos chineses

Coube a Francisco Gomes Neto, que dirigiu a Marcopolo na crise de 2008 e agora pilota a Embraer, confirmar que a fabricante vai questionar a decisão da Boeing de cancelar a fusão entre as empresas. A brasileira vai cobrar, na Justiça ou por meio de arbitragem privada, ressarcimento para gastos de R$ 485 milhões com a separação da aviação comercial das demais áreas, especialmente a de defesa.

Em meio a preocupações com a capacidade de a empresa se manter em voo solo, houve perguntas sobre novas tratativas, que Gomes Neto preferiu não comentar.

Mas o presidente Jair Bolsonaro em seguida afirmou que "se o negócio realmente for desfeito, talvez recomece uma nova negociação com outra empresa". No mercado, cogita-se da aproximação de fabricantes chineses. Se não o fizer, a empresa tende a enfrentar dificuldades de médio prazo. Mais da metade de sua receita vem da aviação comercial (veja gráfico), com encomendas já em queda.

Segundo Gomes Neto, neste ano, houve apenas um cancelamento. A leitura de que a empresa precisa de apoio robusto ficou claro na queda das ações ontem, de 7,49%.

Ajuste na Randon

A Randon anunciou ontem que vai adotar, a partir de maio, redução de jornada de trabalho e salário, além de suspensão de contratos, nas unidades metalúrgicas da empresa em Caxias do Sul. Procurada pela coluna, informou que ainda não definiu quantos funcionários devem ser envolvidos.

Além das opções legais da MP 936 para manter o emprego, abriu um programa que chama de "desvínculo voluntário", que não teria as mesmas regras de programas de demissões voluntárias (PDVs). A fabricante de reboques e semirreboques para caminhões previu que definirá até amanhã o número dos funcionários envolvidos.

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pontos foi a queda, em abril, da confiança do consumidor medida pela Fundação Getulio Vargas. Ficou em 58,2 pontos, o menor nível da série histórica em 15 anos. Antes, o patamar mais baixo era de dezembro de 2015, de 64,9 pontos.

a nossa parte #juntoscontraovírus

Três projetos gaúchos no front

A terceira etapa do Edital de Inovação para Indústria selecionou 10 propostas que utilizam inteligência artificial para prevenir, diagnosticar e tratar os efeitos da covid-19.

Três iniciativas são de empresas gaúchas. Com sede em Porto Alegre, a empresa de sistemas Ponfac desenvolveu hardware orientado para identificação e rastreamento, sem contato, de pessoas com febre alta em ambientes comunitários. A Novus, de Canoas, desenvolveu sistema de triagem de pacientes em centros de saúde com uso de câmeras e sensores de temperatura para medir frequência cardíaca, oxigênio no sangue, frequência respiratória e pressão arterial. De Montenegro, a Tanac produzirá solução alcoólica antisséptica, como agente de desinfecção para uso em higienização de larga escala.

Senai, Embrapii e ABDI vão investir R$ 24,5 milhões em 25 projetos já selecionados. Haverá uma quarta etapa, que levará o total a R$ 30 milhões.

Preocupação e alívio no Mercosul

Passado o primeiro impacto da decisão do governo da Argentina de não participar de novas negociações com países fora do Mercosul, a percepção é de que o suposto rompimento é mais superficial do que parece. Não há reflexo sobre o comércio entre os países do bloco, e a decisão parece ter sido desenhada para responder politicamente aos eleitores do presidente Alberto Fernández sem inviabilizar as exportações argentinas.

Foi um alívio o fato de Fernández garantir que não vai contestar os acordos fechados, mas ainda não implementados, com a União Europeia (UE) e a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta), formada por países europeus que não estão na UE (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein).

- A decisão argentina não tem grande impacto no curto prazo, já que o país concordou em avançar com UE e Efta. Na realidade, tem um lado positivo, ao liberar Brasil e demais para avançar rapidamente em outras negociações - avalia Walter Barral, sócio-fundador da consultoria BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior.

O acordo entre Mercosul e UE só foi fechado porque o governo anterior, de Mauricio Macri, parou de oferecer resistência. Havia temor de que Fernández travasse o acordo duramente conquistado. Como isso não ocorreu, os dois blocos ficam liberados para manter o cronograma.

Há expectativa de que haja avanços no segundo semestre, quando a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, assume a presidência do Conselho Europeu. Mas o fato de a Argentina não se opor não garante que as conversas vão evoluir. A missão seria desafiadora, porque é preciso aprovação de 30 parlamentos nacionais. Em um cenário de crise econômica global, período em que os países costumam ficar mais protecionistas, a tarefa terá mais obstáculos do que os previstos.

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