09 DE ABRIL DE 2020
ARTIGOS
DE TEMPESTADE EM TEMPESTADE
A tempestade dos protestos de 2013, no Brasil, teve início um pouco antes, em Porto Alegre, na primavera de 2012, com a destruição do boneco da Copa e ataques à prefeitura. Ninguém entendia aquela explosão de violência. Talvez não a entendamos ainda.
À época, já contávamos com o WhatsApp, Facebook e Instagram, ao contrário de Obama em sua memorável vitória de 2008, quando se tornou o Rei das Mídias Sociais apenas com vídeos no YouTube e o velho e-mail. "Era" o início da Era Digital, mudando a forma de se comunicar, relacionar, comportar, acabando com o monopólio da mídia tradicional, quando só o emissor de notícias falava sem preocupar-se com a audiência.
Hoje, não só a mídia é questionada, dissecada, "retalhada". Todas as outras instituições, também. A fila anda... Hoje, ninguém com CPF ou CNPJ está a salvo das "pedradas virtuais" e, até mesmo, do linchamento de sua reputação sem direito a defesa prévia, independentemente da idade ou dos bons serviços que já tenha prestado.
Na Era Digital, o passado está enterrado; o que vale é o agora e os segundos a seguir. E o que "eu" penso. O que "nos" norteia é "minha" visão, a "minha" verdade, falar o que "cai bem" para os grupos com os quais "me" identifico, com a defesa das bandeiras que "me" movem.
Sem paciência para exercer o diálogo de forma propositiva, construímos nossa vida na bolha que nos convém, onde não somos questionados. Tempos difíceis!
Frutos da antiga ordem, os partidos políticos perderam relevância. Não se prepararam para ouvir, dialogar e encaminhar sugestões para a construção do tal "mundo melhor", sempre postergada para depois das eleições.
Como dinossauros surpresos com o firmamento em chamas, não entendem que também são vítimas da destruição das antigas e enferrujadas estruturas verticais de representação, antigos feudos de quem "domina a máquina", onde não há "respiradores" que garantam a oxigenação partidária que deveria vir com a renovação de quadros a partir do ingresso de jovens, mulheres, minorias.
Difícil se reinventar, claro. Mais ainda quando a mudança pode representar perdas de poder, espaços, cargos, ainda que não mudar possa significar a autoextinção.
Enquanto definham, saudosos dos votos de outrora, os antigos partidos não se livram do DNA das avestruzes e escondem a cabeça no buraco do tempo, perdendo a oportunidade de correr e se reinventar em busca da evolução que garanta a sobrevivência.
O tsunami da pandemia expõe ainda mais a fragilidade e o despreparo da política no mundo inteiro. Nossa geração, políticos à frente, ficará marcada pelo despreparo em enfrentar esta tragédia anunciada e pela falta de habilidade dos nossos líderes em prevenir as dificuldades que estamos vivendo e, depois, remediar as que viveremos quando a tempestade finalmente passar.
MARCOS MARTINELLI
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