sexta-feira, 15 de novembro de 2019



15 DE NOVEMBRO DE 2019
ENTREVISTA

"Desafios ambientais são globais por definição"

IGNACIO YBAÑEZ, Chefe da delegação da União Europeia no Brasil
Ele apresentou credenciais ao presidente Jair Bolsonaro no início de outubro e, um mês depois, já estava em Porto Alegre. Ignacio Ybañez é o novo chefe da delegação da União Europeia (UE) no Brasil, cargo que equivale ao de embaixador. No início de dezembro, Ybañez coordena na capital gaúcha uma reunião de embaixadores de países do bloco para conhecer melhor o Estado. Otimista com o acordo com o Mercosul, afirma que ambiente, cultura e direitos humanos são valores da União Europeia.

O acordo pode não avançar?

É verdade que alguns países têm dúvidas, mas não propriamente sobre o acordo. Por exemplo, o parlamento tcheco queria que preservação do ambiente, aplicação do Acordo de Paris e proteção da Amazônia fossem incluídos. São elementos importantes para a União Europeia, mas até por isso já estão lá. Uma parte importante é a ratificação, por ambas as partes, de uma série de valores e compromissos. Um é o de fazermos parte do Acordo de Paris. Sou otimista.

Quanto tempo ainda leva?

A ideia é finalizar a parte técnica no próximo ano. Às vezes, dura um pouco mais do que gostaríamos. Depois, vai depender dos tempos políticos. A indústria compreendeu que o acordo será um elemento bem usado para fazer as reformas que têm de fazer por si mesmos, caso contrário não serão competitivos no futuro.

O episódio da Amazônia colocou o acordo em risco?

Sou um diplomata, não vou qualificar políticos europeus nem os brasileiros. Na Europa, superamos a época em que não podíamos falar dos desafios ambientais como desafios internacionais. Os desafios ambientais são globais por definição. Para os países europeus, a questão ambiental é tão fundamental que tem de ser essencial na relação com um parceiro tão importante como o Brasil. É bom insistir, vai haver comentários sobre a situação do ambiente em países específicos, e não será um ataque à soberania nacional. 

No verão da Europa, houve queimadas na Espanha e em Portugal, e políticos de outros países da UE manifestaram preocupação. Isso não foi visto como ataque à soberania. A UE tem esse perfil de oferecer cooperação, está muito alinhada ao princípio de solidariedade. Caso Espanha ou Portugal não tenham meios suficientes para resolver a emergência, pedem ajuda. A oferta da UE segue: se o Brasil quiser contar com nossa ajuda, financeira ou de equipes, nossos países têm enfrentando os desafios do fogo, estamos preparados. Isso não quer dizer que tenhamos dúvidas sobre a soberania brasileira. É verdade que a situação foi tensa, mas as coisas estão melhores.

Há preocupação com o futuro do Mercosul, dada a relação difícil entre Argentina e Brasil?

Quando apresentei credenciais ao presidente Bolsonaro, ele disse que a grande prioridade para o seu governo é o acordo. Alberto Fernández (presidente eleito da Argentina) tem dúvidas. Podemos analisar como ajudar a Argentina. O que não podemos fazer é reabrir a negociação, que foi dura.

O que embaixadores europeus farão no Rio Grande do Sul?

Permitir que conheçam o Estado e, também, que o Estado se apresente a 24 embaixadores, com empresas, entidades empresariais, sociedade civil e universidades. É um esforço para melhorar a relação. O Brasil é um país grande, existem especificidades em cada região. Desenvolvemos cooperação com centros culturais de países da UE. Agrupamos todos os centros culturais dos países da UE. Temos em Brasília, Curitiba, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e vamos criar em Porto Alegre. Na UE, fazemos a promoção da cultura. Ambiente, cultura e direitos humanos são áreas muito importantes para nós.

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