terça-feira, 19 de novembro de 2019


19 DE NOVEMBRO DE 2019
INFORME ESPECIAL

Ser contra a greve não é ser contra os professores

Não existe sociedade que funcione sem bons professores. Salários dignos, condições de trabalho e treinamento são pilares básicos, dos quais nos afastamos cada vez mais, principalmente na área pública. O Estado quebrado respira por instrumentos. Mesmo que o discurso seja outro, as iniciativas recentes do Piratini deixam a impressão equivocada de que o funcionalismo é o problema, e não parte fundamental da solução.

Estudei boa parte da minha infância em uma escola pública, o então Grupo Escolar Anne Frank. Tenho orgulho dessa experiência plural e até hoje cultivo amizades e boas lembranças de colegas e de professores, pelos quais também nutro uma enorme gratidão. Por isso, me sinto compelido a manifestar a minha opinião.

Essa greve convocada agora pelo magistério é inoportuna e inútil. Primeiro, porque pune as pessoas erradas: pais e alunos que já sofrem, assim como seus mestres, os efeitos do desmonte do ensino público. Prédios decaídos, professores desmotivados e currículos defasados são apenas alguns dos pontos. Segundo, porque a paralisação não altera em uma vírgula a rotina do governador e dos deputados, os verdadeiros e legítimos responsáveis pelo pacote que mexe com os servidores.

Noto, por dezenas de e-mails e mensagens que recebi nos últimos dias, um clima de indignação e de quase desespero por parte de muitos professores. Sentimentos legítimos e compreensíveis, dadas as circunstâncias. Muitos dos textos coincidem em um mesmo argumento: "também sou contra a greve, mas o que mais nos resta fazer?" São realmente caminhos difíceis, mas que não podem ser definidos apenas pela emoção. Agradeço à esmagadora maioria que se dispôs a conversar, quase sempre discordando com veemência, e me desculpo se não consegui responder a todos.

Mas penso que a greve, agora, só enfraquece ainda mais o ensino público como o conhecemos hoje. O próprio governo do Estado tem entre seus projetos a oferta de um modelo alternativo, as charter schools, espécie de parceria público-privada já implementada pela prefeitura da Capital e que, ao que tudo indica, funciona bem.

Sou contra a greve e, por isso, a favor dos professores. Do meu jeito, que não é único e nem absoluto. Em um ambiente democrático, as opiniões podem e devem variar. O que não podemos admitir é a tentativa violenta de calar quem pensa diferente, mesmo que os argumentos nos pareçam absurdos. É só assim que se constrói uma sociedade realmente livre: com bons professores e com liberdade para pensar e discordar.

TULIO MILMAN

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