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sábado, 1 de maio de 2010
02 de maio de 2010 | N° 16323
DAVID COIMBRA
Não acredito em kiwi
A turma, quando o Rivellino dava o elástico com o pé 37 dele, a turma nunca dizia drible.
A propósito: 37, imagina. Um homem com um chute daqueles. Quebrou os quatro dedos da mão de um goleiro e a clavícula de outro. O “Patada Atômica”, chamavam-no. E andava por aí em cima de um pé desse tamanhinho.
Que nem o Palhinha. Não o novo Palhinha, esse que jogou no Grêmio tempos atrás, e sim o antigo Palhinha, o melhor dos Palhinhas, o do Cruzeiro de Joãozinho, Nelinho e Jairzinho. Acontece que aquele Palhinha calçava 37 e meio, sabia?
Trinta e sete e meio.
Mandava vir a chuteira da Europa, um luxo. Tinha outra mania, aquele Palhinha: o cabelo dele era bem curto, “estilo cadete”, como se dizia então, mas mesmo assim, mesmo com o cabelo rente ao crânio, o Palhinha era quem mais demorava no vestiário do Cruzeiro, penteando-se. Era sempre o último a entrar em campo, mas entrava que era uma boniteza.
De qualquer forma, o assunto é o Rivellino. Quando ele dava o elástico. É que a turma nunca dizia drible; dizia dible. O dible elástico. Dizer drible é difícil, tem um erre e um ele enfiados no meio das sílabas, uma chateação. Pela mesma razão, tanta gente tem problema para dizer problema.
Assim é esse negócio de stopper. O que é mesmo stopper? Em inglês stopper quer dizer “rolha”. Ou seja: o cara que fecha a defesa. O rolho. Só que uns dizem que o stopper joga atrás da zaga, outros que o stopper joga à frente da zaga.
Mas quem joga atrás da zaga não seria líbero? E quem joga à frente não seria centromédio? Nunca vi nenhum jogador dizer que joga de stopper. Nunca vi nenhum guri dizendo que o sonho dele é ser stopper. Sabe por quê?
Porque ninguém sabe como joga o stopper. O stopper é como o kiwi. Já ouvi dizerem que o kiwi tem 700 anos de idade. Até pode ser, mas alguém inventou o kiwi há 700 anos, o kiwi não é uma fruta natural como o abacaxi ou a banana, frutas mesmo, que sempre existiram, os neanderthais comiam banana. Kiwi, não. Nenhum neanderthal jamais provou kiwi, porque o kiwi é obra de mãos humanas. O kiwi é um stopper e o stopper é um kiwi.
Enfim. Você entendeu o que quis dizer com stopper e dible e kiwi, não é mesmo? Obviamente, que o ambiente do futebol tenta simplificar o que é complexo, e é por isso que ninguém entendeu o nome do Neuton, é por isso que todos o chamavam de Nilton. Neuton parece inventado como um kiwi e Nilton é tão fácil de falar quanto dible. Mas hoje até os zagueiros da várzea já falam drible, hoje o kiwi está consagrado, Neuton também vai vicejar. Desde que, é claro, não jogue de stopper.
Da marcação
A tarefa de marcação pode ser sutil como a colocação de um ponto e vírgula, pode ser sofisticada como uma mesóclise.
Você viu o Gre-Nal de domingo passado?
Havia no Beira-Rio dois centroavantes de jogada parecida, que gostam de girar em cima do zagueiro inimigo, para, feito o giro, estando com o nariz apontado para o gol, tentar o chute. Walter e Borges, são eles. Atrás de cada um, um zagueiro arfante: Mário Fernandes, que sofreu, e Bolívar, que nem tanto.
É que Bolívar soube marcar Borges. Não só por ser muito maior do que ele, mas porque usou com competência a diferença de tamanho. O ombro de Borges estava sempre acoplado à axila de Bolívar. Quando a bola chegava nas cercanias da chuteira de Borges, Bolívar já esticava a perna, já botava o dedão na bola, Borges não tinha tempo de dominá-la.
Mas ninguém pode se valer só da estatura para marcar Walter. Você olha para Walter e o vê retaco e forte como um grande buldogue. Suas costas parecem um fogão de seis bocas. Walter as apoiava no peito de Mário Fernandes, usava o adversário como referência e ponto de equilíbrio para firmar o corpo e fazer a virada. Assim ele foi o melhor do Gre-Nal. Melhor até do que os vencedores. Melhor até do que quem fez gol, como Borges.
Um zagueiro só anulará Walter se o impedir de encostar na bola. Se conseguir antecipar-se com perfeição. Caso contrário, o zagueiro só terá sucesso se marcar o pé chutador de Walter, se lhe tirar espaço para desferir a chicotada.
Para Marcar Walter, você não pode encostar nele, mas também não pode ficar muito longe dele. Perto o suficiente para lhe tomar a bola, longe o bastante para impedir que ele se apoie em você. Não é missão para qualquer beque do Ararigboia. É trabalho para zagueiro campeão. Que só será campeão se conseguir fazer o trabalho.
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