sábado, 22 de maio de 2010



22 de maio de 2010 | N° 16343
NILSON SOUZA


Prazer, Geada!

Engajo-me irrestritamente neste exército antibullying que parece estar se formando em nosso Estado para combater, com a arma da conscientização, todas as formas de violência, maus-tratos e humilhações contra pessoas fragilizadas física ou emocionalmente. Não se trata de sair pelas ruas, praças e pátios de escolas caçando adolescentes agressivos.

Para isso existem as autoridades e os responsáveis pelas instituições de ensino. O que nos cabe, como voluntários de uma cultura de paz, é contribuir com exemplos, com a educação familiar e com atitudes que possam inspirar outros cidadãos a refletir sobre o tema – e a evitar o clima propício ao deboche, ao achincalhe e ao espezinhamento.

Apelidos, por exemplo.

Passei a vida toda sendo tratado por apelidos e nunca me importei com isso. Quando cursei Educação Física, no tempo em que ainda tinha cabelos brancos, era chamado de Geada pelos colegas e até mesmo por professores. Se algum dia parei para pensar no assunto, devo ter concluído que era um apelido simpático, poético até. Luiz Coronel que o diga: “Geada vestiu de noiva/ os galhos da pitangueira...”

Mas nem todos são assim: há apelidos preconceituosos, degradantes e excludentes. Por que dar trânsito a eles? Sabemos todos que há pessoas mais sensíveis a determinados rótulos, especialmente aos que se referem à sua aparência física, origem ou raça. O que custa perder uma piada para preservar o respeito pelo outro? Para saber se um apelido é ofensivo ou não, basta nos colocarmos no lugar de quem não está sendo tratado por seu verdadeiro nome.

Você gostaria de ser chamado de, digamos, Dunga? Do jeito que ele reage às perguntas quando é entrevistado, às vezes fica a impressão de que também não gosta. Mas o treinador da Seleção é, obviamente, um caso especial: um dia ele até pode ter rejeitado a comparação com o personagem da história infantil. Agora, com a fama internacional, o apelido passou a fazer parte de sua identidade.

Contam-se nos dedos, porém, os alcunhados que conseguem virar o jogo e transformar nomes depreciativos em identificação positiva. Apelido, na maioria das vezes, é uma marca infamante. Claro que existe um lado engraçado nisso.

Não há como ignorar a criatividade de algumas pessoas que se especializam em apelidar colegas de trabalho e de escola, ou mesmo desconhecidos. Porém, a coisa perde a graça quando causa constrangimento e deriva para a humilhação. Aí se torna inaceitável.

Vamos pensar seriamente nisso?

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