sexta-feira, 28 de maio de 2010


RUY CASTRO

Surto cívico

RIO DE JANEIRO - Tenho sido questionado com frequência sobre se a seleção brasileira vai fazer bonito ou dar vexame na Copa do Mundo. A resposta é não sei e, francamente, não estou com os fígados em sobressalto, à espera.

Tenho uma relação meio espírito de porco com a seleção. Só torço por ela se jogar bem e bonito, ganhe ou não. Ganhar não é tão importante. Domingos da Guia, Leônidas da Silva e Zizinho nunca foram campeões do mundo; Dunga, Gilberto Silva e Kleberson são. Viu como não é importante?

Sou da teoria de que, podendo convocar os jogadores que quiser, mesmo que joguem em Júpiter, o treinador do Brasil está obrigado a armar o melhor time. Donde não abro mão de vê-lo jogar com categoria, dar espetáculo e lutar. Isso significa que a última vez em que me empolguei com a seleção foi na Copa de 1982 -o time de Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Leandro. As Copas de 1994 e 2002, vencidas pelo Brasil, não me inspiraram admiração ou prazer.

É diferente de quando se trata do nosso time de coração. Este entra em campo com os jogadores de que dispõe e que, às vezes, estão longe de ser os melhores. Azeite. É ele que nos redime. Por isso, tem de vencer sempre, mesmo jogando mal, chutando de canela, e nem que seja com um gol de mão e em "offside", aos 47 do 2º tempo.

A Copa do Mundo é aquele período de quatro em quatro anos em que pessoas que passaram os quatro anos anteriores alheias a futebol são acometidas de um incontrolável surto cívico, cobrem-se de verde e amarelo e torcem pelo Brasil como se soubessem quem é a bola. Mas, desta vez, está difícil até para elas.

Exceto por Kaká e, talvez, Robinho e Julio César, não creio que saibam sequer identificar os outros jogadores -todos monotonamente parecidos, de cabeça raspada, brinquinho na orelha e falando "toicida" em vez de "torcida".

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