sexta-feira, 7 de maio de 2010



Tom cobriu o Brasil

Muita gente descobriu o Brasil, desde antes dos índios, do seu Cabral e muitos ainda descobrem, pública ou anonimamente, no dia-a-dia destes vários Brasis e inúmeros brasileiros. O Brasil é de todos, de todos os tempos e lugares e é território dos infinitos sonhos, fantasias e imaginações de nós todos. Nós somos os donos do campinho brasileiro.

Todos nós. Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, Tom Jobim, não tinha brasileiro só no nome. Tinha na alma, na genialidade, na bonomia, no talento que se ouve em quase todas as esquinas do mundo, ao som de algum cantor, violonista, saxofonista, gaiteiro, bandonionista ou mesmo apenas na voz ou no assovio de alguém. Tom não precisou sapatear no túmulo de ninguém nem virar flor de cemitério para criar e encantar o mundo com suas canções.

Ao contrário, ele estudou música erudita e popular, nacional e estrangeira, reverenciou Pixinguinha, Cole Porter, Gershwin e tantos outros e, à sua maneira, e com companheiros do porte de João Gilberto e Vinicius de Moraes, mostrou ao mundo nossa inteligência e sensibilidade cidadã e musical.

Ninguém cria do nada e é preciso unir passado, presente, futuro, tradição e novidade para ir adiante. Isso em todos os campos, especialmente na política, arte milenar e infinita. É bom lembrar que a arte é longa e a vida é curta.

É bom lembrar que estamos de passagem, que pessoas vão e países e instituições ficam. Faz tempo, muito tempo, que algum humilde tatatataravô descobriu a roda, a energia elétrica, o telefone e outras coisas que, na real, foram sendo descobertas aos poucos, com o esforço e a criatividade de sucessivas gerações. Nada, ninguém é perfeito e acabado; e sem pelo menos um pouco de carinho e leite de mãe ninguém sobrevive.

A descoberta do Brasil deve ser tarefa coletiva, democrática, diária e com base em educação, civilidade, ética e outros elementos.

Tom Jobim não descobriu o Brasil, ele o cobriu de glória. Saudades do Tom, de seu exemplo, de seu sorriso e de suas frases. A vida de Tom até foi meio curta, mas sua arte é longuíssima e nos anima a pensar que falta muito ainda para o fim do caminho.

A música de Tom nos anima a respeitar os que vieram antes, os que estão aí, meio maduritos, e os que estão nascendo agora. A arte de Tom inspira a reverenciar as mães, os pais, os irmãos, os filhos e os netos da Pátria, sem vaidades, disputas, egos, propagandas, palavras e atos exagerados, que ao fim e ao cabo não servem para nenhum mortal.

Uma linda sexta-feira e um gostoso fim de semana

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