segunda-feira, 17 de maio de 2010



17 de maio de 2010 | N° 16338
PAULO SANT’ANA


Europa em chamas

As notícias não são boas, embora diretamente não nos pertençam: a Europa inteira enfrenta grave crise financeira, abalando o euro.

Vários países estão adotando medidas recessivas que, se fossem impostas aos brasileiros, haveria por aqui choro e ranger de dentes.

A gente quando ouve falar em Europa, pensa que lá se vive no melhor dos mundos.

Vivia-se.

Com a explosão dos déficits nas contas públicas, os países da União Europeia começam a reduzir drasticamente os benefícios sociais, deixando para o segundo plano suas tradicionais políticas que valorizam o bem-estar social.

Há medidas que estão sendo adotadas por Grécia, Espanha e Portugal que, se fossem empregadas aqui no Brasil, apesar de causar dor nos atingidos, seriam saudadas com quase euforia pela opinião pública: eles estão reduzindo os salários de políticos e governantes em geral em 5%.

Em compensação, qual não seria aqui a repercussão de uma medida que os europeus estão tomando, fosse ela adotada aqui (?): a Espanha diminuiu a remuneração de servidores públicos e congelou as aposentadorias. Deus o livre, o Brasil viria abaixo se fosse isso decretado por aqui.

Seria muito maior o estrépito do que o causado por esses aumentos nas aposentarias em índices inferiores ao do aumento do salário mínimo.

Eu não sabia, mas mais de 20% da população da Espanha, da Grécia e de Portugal vivem na pobreza.

Junte-se a essas reduções nos salários e nas aposentadorias o aumento de impostos que os governos estão impondo em vários países e se chega à conclusão que a Europa entra em uma crise econômico-financeira sem precedentes desde o fim da II Guerra Mundial.

As medidas são azedas, afinal aqui no Brasil não há notícias em toda a história sobre redução de salários e congelamento de aposentadorias.

Fossem aqui empregadas a redução dos salários e o congelamento das aposentadorias, diríamos que isso só podia acontecer em uma subcivilização como a da América Latina.

Pois é, mas está acontecendo lá pela Europa.

O presidente Lula está na Europa neste momento, tomara que ele não se inspire nessas medidas para adotar gestos congêneres por aqui, ainda mais num momento em que também ineditamente o governo brasileiro anuncia corte nos gastos para enfrentar a inflação.

Exatamente por isso é que temos de nos preocupar com o que está ocorrendo na Europa: se lá reduzem salários e congelam-se aposentadorias, caso haja alguma crise idêntica ou análoga por aqui, não faltará quem pregue a adoção das mesmas medidas no Brasil.

Em comparação com a Europa, pois, vivemos no melhor dos mundos. Os salários são honrados, as aposentadorias também, apesar do arrocho nas acima do salário mínimo, o nosso desemprego nem de longe alcança os alarmantes 20% que ostenta a Espanha.

Antes de nos queixarmos da nossa situação, olhemos para trás de nós. E incrivelmente a grande e invejável Europa está agora atrás de nós, até mesmo em bem-estar social.

Não é com certo alívio que assistimos a isso?

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