segunda-feira, 7 de outubro de 2024



07 de Outubro de 2024
FRUSTRAÇÃO - Paulo Egídio

FRUSTRAÇÃO

Mesmo com crescimento nos últimos dias, Juliana Brizola fica em terceiro

Candidata do PDT contou com uma propaganda focada na antipolarização política e nos ataques às ações do atual governo durante o período da enchente de maio. Mas, no final, não resistiu à força de Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT) e ficou fora do segundo turno da disputa na Capital

O discurso antipolarização e a aposta em uma campanha crítica ao atual governo foram insuficientes para Juliana Brizola avançar na eleição de Porto Alegre. A candidata do PDT somou 136.783 votos (19,69% dos válidos) e viu Maria do Rosário (PT) passar ao segundo turno contra o prefeito Sebastião Melo (MDB).

Juliana acompanhou a apuração em seu apartamento no bairro São João, ao lado dos filhos e do namorado. Ela iria até a sede do PDT, na Rua Félix da Cunha mas, abatida com a derrota, mudou de planos e preferiu permanecer em casa.

Coube ao candidato a vice, o deputado estadual Thiago Duarte (União Brasil), se pronunciar em nome da chapa e agradecer aos mais de 136 mil votos recebidos.

Apesar do resultado, saímos desse processo mais fortalecidos - disse Thiago.

Os partidos devem se reunir individualmente para decidir sobre apoio no segundo turno, mas Thiago adiantou que, de sua parte, deve manter a neutralidade.

Não me sinto confortável em apoiar nenhum dos dois candidatos que foram ao segundo turno - adiantou, citando indícios de corrupção e problemas de gestão do governo Melo e o distanciamento ideológico do PT.

No caso do PDT, o presidente do diretório metropolitano, José Vecchio Filho, disse que a decisão será tomada em conjunto com Juliana e as direções estadual e nacional.

Aos 49 anos, Juliana encara a terceira derrota na tentativa de chegar ao Paço Municipal. Em 2016, concorreu a vice de Sebastião Melo e foi derrotada. Em 2020, encabeçando chapaterminou em quarto lugar, com 6,4% dos votos.

Ascensão insuficiente

O clima de pesar no comitê contrastava com a animação nos últimos dias. Registrando crescimento nas pesquisas, a candidata se aproximava de Rosário e pregava um voto útil para disputar o segundo turno contra Melo. No entanto, essa mobilização se mostrou insuficiente.

Ciente da força dos concorrentes, Juliana tentou montar uma candidatura competitiva com partidos de espectro ideológico diferente do seu. Conseguiu convencer o deputado estadual Thiago Duarte (União Brasil) a ser o vice em sua chapa e, ao final do período de articulações, atraiu o PSDB.

Ressentidos com Sebastião Melo por negar apoio ao governador Eduardo Leite em 2022, os tucanos resistiam a se aliar ao emedebista. Entretanto, não conseguiram viabilizar candidatura própria e, sem outras opções, acabaram por se juntar à aliança de Juliana. Na prática, no entanto, boa parte dos candidatos a vereador ficou com Melo.

Participação discreta de Leite

Presença esperada na campanha, o governador Eduardo Leite chegou a gravar para os programas de rádio e TV, mas teve engajamento limitado e não participou de atos da campanha de rua.

O staff de Juliana acreditava que ele conseguiria ajudar a conter o evidente crescimento de Melo, atraindo um eleitorado centrista. Ao final, entretanto, a pedetista sucumbiu diante da força de Melo, que tinha o dobro do tempo de televisão e de candidatos a vereador lhe apoiando, e de Rosário, que manteve a distância apontada nas últimas pesquisas.

Na TV, a campanha de Juliana começou conceitual, pedindo confiança e criticando o governo atual. Na reta final, os vídeos começaram a elencar propostas, mas sem aprofundamento.

Juliana ainda foi prejudicada pelo agravamento das dores provocadas por uma hérnia de disco. O problema se intensificou em momentos de esforço ou tensão. Em razão da saúde, Juliana faltou a painéis, teve de cancelar agendas e, para participar dos debates e entrevistas, precisou passar por infiltrações.

Em incursões pelas ruas da Capital, a candidata do PDT carecia de militância orgânica e de maior planejamento. Na segunda-feira anterior à eleição, Juliana atrasou quase uma hora para caminhada na Vila Nova Ipanema, na Zona Sul.

A certa altura, a comitiva deparou com um grupo de homens sem camisa, um deles com tornozeleira eletrônica, e deu meia volta. No mesmo ato, a pedetista também teve de lidar com a rejeição à classe política.

- Subir quando querem voto é fácil - reclamou um morador.

A sensação entre apoiadores é de que Juliana sai da campanha maior do que entrou e está cacifada para disputar nova vaga de deputada federal na eleição de 2026. 

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