05 DE JUNHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
DESATINOS IDEOLÓGICOS
O Brasil já é o segundo país do mundo em número de casos de covid-19 e a cada semana bate recordes em número de mortes. Nem essa estatística macabra, que recomenda mais do que nunca o distanciamento social, desestimula lideranças extremistas de seguirem convocando manifestações de rua a favor e contra o presidente Jair Bolsonaro.
Felizmente, o Brasil vive uma democracia e manifestações fazem parte dela, contanto que dentro da legalidade e sem recurso à violência. No entanto, salta aos olhos que, neste momento, opostos ideológicos se provoquem para além dos alucinados ataques em redes sociais e se disponham a confrontos nas ruas. Tais medições de força já seriam temerárias em tempos normais. Mas, no curso de uma pandemia, são atos que desnudam ainda mais a irresponsabilidade social e política desses ativistas.
Não se pode dizer que haja surpresa nesses desatinos. Na história do país, grupelhos que se arvoram donos da verdade costumam fazer protestos ruidosos e procuram chamar a atenção a custa de agressões ou palavras de ordem, à esquerda e à direita, contra instituições da democracia, como o Judiciário, o Congresso e a imprensa. Insistir nessas atitudes extremadas neste momento, porém, é duplamente arriscado: enquanto se risca o fósforo da radicalização ideológica, alimenta-se a fogueira do coronavírus no Brasil.
Os dois lados que se preparam para embates nas ruas não merecem crédito em seus propósitos democráticos. Entre fanáticos seguidores do presidente, pede-se intervenção militar, marcha-se com tochas pelas noites de Brasília ou exibem-se bandeiras associadas ao neonazismo na Ucrânia. No lado dos que se dizem "pró-democracia" ou "antifascistas", povoam membros de torcidas organizadas que agem como os violentos "barra bravas" argentinos e ocultam-se extremistas de esquerda que pretendem desde sempre varrer da Terra o que chamam de "democracia burguesa".
Por isso, mais do que nunca é preciso que as vozes da razão e da legítima defesa democrática se levantem, não com irresponsáveis atos nas ruas, mas com manifestações firmes em todas as esferas, das suas relações sociais aos espaços institucionais, em prol do Estado de direito. A moderação dos que respeitam divergências pacíficas e condenam aglomerações agora não é covardia e muito menos omissão: à luz da História, é a atitude a ser assumida pela imensa maioria que assiste pasmada aos desvarios radicais e totalitários dos que tentam tomar cidades e a política como reféns em um momento de emergência sanitária e social.
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