sexta-feira, 5 de abril de 2019




Perdas de quase R$ 100 milhões reacendem debate sobre 2,4-D

RESÍDUO DO HERBICIDA é apontado como causador de prejuízos em uvas, oliveiras e maçãs no RS

Com safras de uva, maçã e oliveira praticamente concluídas no Rio Grande do Sul, produtores têm agora visão mais clara das perdas causadas possivelmente pelo agroquímico 2,4-D - aplicado no pré-plantio de lavouras de soja, justamente no período de floração dessas culturas. O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) projeta prejuízos na ordem de R$ 94,02 milhões com redução de 32% da colheita atual da uva. Levantamentos foram enviados ao Ministério Público Estadual (MP), que tem inquérito em andamento (leia mais ao lado e na página 14).

Para chegar a esse resultado, o Ibravin reuniu informações de 62 vitivinicultores de diferentes regiões do Estado. O relatório aponta prejuízos em 241 hectares com uvas viníferas e híbridas americanas, que resultou em 1,01 milhão de toneladas a menos do que em safras consideradas normais.

- O levantamento é bem conservador. Considera apenas produtores que forneceram dados de forma espontânea - explicou Helio Marchioro, conselheiro do Ibravin.

Ele pondera que as informações não foram coletadas necessariamente de produtores que tiveram laudos positivos para a presença do herbicida, em análises feitas pela Secretaria Estadual da Agricultura no final do ano passado.

- A situação se tornou insustentável - completou o dirigente.

Segundo documento elaborado pela Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi), amostragem feita em seis pomares de quatro municípios dos Campos de Cima da Serra indicou perdas de 48% da produção.

- Quem está tomando as decisões precisa agir - comentou o presidente da Agapomi, José Sozo.

O dirigente refere-se ao fato de muitos produtores de soja já estarem se organizando para a compra dos insumos da próxima safra. Entidades defendem a retirada do produto do mercado como a única alternativa.

APROSOJA AFIRMA QUE PROBLEMA É NA APLICAÇÃO

Já a Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja) alega que a opção pelo 2,4-D não é só econômica. Segundo a entidade, é o composto mais eficiente de combate a ervas daninhas. Sojicultores entendem que a má aplicação do produto causa o problema, o que poderia ser solucionado com a ampliação do programa de qualificação técnica Deriva Zero, cujo objetivo é treinar agricultores para o correto uso do herbicida.

JOANA COLUSSI

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