O ano de 2019
Calma, calma, a ressaca do Réveillon já passou, você já tomou, aos poucos, um vidro de Olina, quatro litros de Coca-Cola e vinte e tantos litros de água para limpar a serpentina intestinal. Aquele gostinho de guarda-chuva na boca e os terríveis quilos de chumbo coroando sua cabeça já foram, sem deixar saudades. Ao menos até o próximo porre. Beba com moderação e com moderação aceite minhas dicas, que às vezes são sóbrias demais. Calma, o último dia do ano não é, nem nunca vai ser, o último dia do tempo. É só um número do calendário, uma forma de achar que vai começar tudo novo, de novo.
É como ir num cabeleireiro pela primeira vez achando que o corte será muito diferente. Poderá até ser. Precisamos deste rito de passagem, inventariar o que foi e o que não foi, o que se fez ou deixou de fazer e traçar os planos para o que vamos fazer e não fazer no ano novo. Tenho a impressão de que o mundo não vai acabar em 2019, que me desculpem os eternos arautos do apocalipse. E se esse mundo acabar, devem surgir outros big bangs, outros mundos ou criaturas criadas por Deus ou por quem você quiser, você decide. Será que foi Deus que criou o big bang?
Os primeiros dias do ano não se prestam a uma pergunta de tamanho oceânico destas. Melhor seguir perguntando, filosofando. Filosofar é perguntar. A vida tem e sempre teve mais perguntas que respostas. A vida tem sempre razão. Os grandes mistérios devem ficar misteriosos e seria muito chato saber de tudo. Siga perguntando, falou um dia, um certo guru que encontrei numa noite escura e ao qual perguntei qual era sua mensagem final, antes de partir.
Ele respondeu a pergunta dizendo que eu devia seguir perguntando. Certo ele, as palavras e as perguntas são infinitas, livres como gaivotas nas beiras das praias, sobrevoando os mares. Machado de Assis disse que matamos o tempo e que ele nos enterra. Mario Quintana escreveu que o tempo é só um ponto de vista dos relógios. Uns ainda pensam que tempo é dinheiro. Mentira. Dinheiro é acumulável, tempo passa e se guarda no cofre. Há quem diga que templo é dinheiro, mas isso não a ver com o lance do ano novo.
Ou será que tem? Respostas para a redação. Enfim, aproveite o começo do ano para iniciar os planos e as ações que te farão feliz, mesmo que isso seja uma dieta, dormir e levantar cedo, trabalhar mais, fazer exercícios e ter compaixão, paciência e crença no ser humano. Não pense que somos apenas irrecuperáveis e engraçados macacos vestidos. Perdão, macacos, pela comparação, vocês são melhores que nós. Pois é, não é bem assim. Criamos, inventamos uma série de coisas. Criamos novos problemas para solucioná-los. E daí?
Qual o problema? Ano novo, vida nova, hora de fazer uma limpeza, um feng shui milenar para harmonizar o ambiente, as energias e a mente. Ano novo, hora de viajar para onde você nunca foi, de andar por um caminho diferente, momento para sentir-se criança ou turista. Hora de pensar, sentir e fazer o que você nem tinha imaginado ou sabia.
A propósito...
Este 2019 será um ano marcante para os brasileiros e o Brasil. Tomara que sejam marcas boas, como a Lacoste, a Redbull, a Mercedes, a Renner e o lépido e elegante octogenário Jornal do Comércio, marca de quem decide, clássico e eterno como um blazer azul que não precisa entrar ou sair da moda. Bom, ótimo Brasil para todos em 2019, lembrando que acima das discordâncias e opiniões está a sobrevivência e a felicidade de todos.
Acima das diferenças individuais e grupais deve pairar o que for mais saudável e adequado para o conjunto, para o coletivo. Não é fácil, nunca foi, mas é o melhor e mais saudável caminho, o rumo da democracia, atualizada e reinventada a cada ano-novo. Ótimo 2019 para meus queridos leitores. Não digo quantos, senão vão dizer que sou exibido, modesto ou mentiroso. -
Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2018/12/662499-crime-real-e-condenacao-erronea.html)
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