terça-feira, 8 de janeiro de 2019


08 DE JANEIRO DE 2019
DAVID COIMBRA

As três bandas do governo Bolsonaro


Bolsonaro é antissistêmico, mas emergiu das entranhas do sistema. Em sua vida, tem mais tempo como político profissional do que como militar. Foi sempre um deputado do chamado "baixo clero" do Congresso, sem grandes projetos, sem maior brilho. Tornou-se conhecido quase que só pela polêmica que despertavam suas declarações rascantes e politicamente incorretíssimas.

Um antissistema forjado pelo sistema. Isso pode ser bom, porque dá a Bolsonaro alguma compreensão do funcionamento da máquina estatal e talvez lhe confira a virtude da humildade, muito importante para quem comanda uma estrutura complexa, como é o governo de um país.

Na campanha, Bolsonaro demonstrou dispor desse predicado: admitiu que não entende de economia e, por isso, nomeou como ministro plenipotenciário um técnico no qual confia: Paulo Guedes. Também em outra área nevrálgica do país, Bolsonaro procurou um especialista, um homem com mais prestígio do que ele, inclusive: Sergio Moro foi designado como ministro da Justiça.

Esses dois, Moro e Guedes, são o centro do governo e são o que de melhor o governo tem. Se puderem agir com liberdade, farão o Brasil avançar. Na primeira semana, Moro já anunciou que apresentará um projeto de grande importância para modernizar a Justiça brasileira: o estabelecimento do que, nos Estados Unidos, chama-se de "plea bargain". Na prática, é a possibilidade de o acusado por um crime negociar diretamente com o Ministério Público, sem passar pelo juiz. Há quem calcule que isso aliviaria a Justiça em cerca de 70% dos projetos que hoje a emperram.

Moro e Guedes, portanto, são o que há de sério e funcional no governo. Mas há também outra banda, a ideológica. Essa é formada por uns tipos esquisitos, a maioria deles indicada por Olavo de Carvalho. São obcecados pela tal "luta contra o socialismo" e só pensam no PT. Parecem enérgicos, mas na verdade são precipitados. Parecem confiantes, mas na verdade são arrogantes. Podem causar grandes constrangimentos ao país se não forem neutralizados pelo terceiro grupo: os militares.

Curioso: houve certa preocupação da esquerda com o número de militares apontados para integrar o ministério de Bolsonaro, mas eles, em vez de radicalizarem o governo, o tornam mais moderado. Os militares têm sido a voz da ponderação nesses primeiros dias. Mais sensatos e mais discretos, eles são o contraponto aos ideológicos aloprados.

Em resumo, são três os grupos que compõem o governo Bolsonaro: numa ponta, os ministros ideológicos e exóticos, que atenderiam à demanda antissistêmica; na outra, os dois superministros técnicos, Moro e Guedes, aos quais foram terceirizadas as tarefas mais importantes; entre  eles, os militares sisudos.

O destino do Brasil depende de que setor será mais forte na administração. Se Guedes e Moro tiverem autonomia e poder para melhorar as condições da economia e da segurança pública, o Brasil ganha. Se o governo se concentrar na pauta de costumes, na ideologia e no antipetismo, o Brasil perde. Faça a sua aposta.

DAVID COIMBRA

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