07 DE JANEIRO DE 2019
DAVID COIMBRA
As semelhanças entre Bolsonaro e Lula
Fidel Castro era um galo. Mesmo. Assim se chamava um galo de rinha que havia sido importado de Cuba por um criador de Belo Horizonte, no começo dos anos 1960. Na época, as brigas de galo desfrutavam grande popularidade no Brasil e em Cuba. Os galos cubanos tinham fama de ser combatentes briosos e, por isso, Fidel custou uma pequena fortuna: 20 mil cruzeiros. Para se ter uma ideia, o salário mínimo, em 1959, valia 6 mil cruzeiros.
Fidel tornou-se uma celebridade, mas seu destino seria trágico. Tudo por causa da maldita política. Em 1960, Jânio Quadros foi eleito presidente do Brasil. Empossado, transformou a briga contra as brigas de galo em uma de suas mais encanzinadas obsessões. Jânio proibiu as rinhas de galo de uma (desculpe) penada. Mas, no Brasil, um hábito popular não pode ser extinto por decreto. As rinhas continuaram em todo o país, enfurecendo o presidente. Que determinou que a polícia fizesse operações enérgicas para punir os criminosos.
Foi assim que Fidel acabou apreendido, junto com outros 53 colegas, em Minas Gerais. Mas, uma vez recolhidos, o que a polícia iria fazer com eles? Não há galos de briga em zoológicos, e talvez aquelas aves gladiadoras, acostumadas à luta até a morte, não se adaptassem a um pacífico galinheiro de quintal. A saída (Terrível! Cruel! Desumana!) foi executá-los, preparar com seus cadáveres um delicioso ensopado e servi-lo aos detentos dos presídios de Belo Horizonte.
Foi assim que Fidel acabou apreendido, junto com outros 53 colegas, em Minas Gerais. Mas, uma vez recolhidos, o que a polícia iria fazer com eles? Não há galos de briga em zoológicos, e talvez aquelas aves gladiadoras, acostumadas à luta até a morte, não se adaptassem a um pacífico galinheiro de quintal. A saída (Terrível! Cruel! Desumana!) foi executá-los, preparar com seus cadáveres um delicioso ensopado e servi-lo aos detentos dos presídios de Belo Horizonte.
A proibição das rinhas de galo fazia parte do ponto prioritário do governo de Jânio Quadros: a moralização do Brasil. Nesse afã, ele também proibiu as corridas de cavalo durante os finais de semana e (protesto!) o biquíni nas praias e os maiôs cavados nos desfiles de miss.
A pauta de costumes foi relevante no breve governo Jânio, como tem sido no por enquanto breve governo Bolsonaro. Não por acaso - ambos são políticos antissistêmicos.
Jânio e Bolsonaro elegeram-se prometendo combater a corrupção. O símbolo da campanha de Jânio era a vassoura, que varreria os corruptos do país. Outro político antissistêmico, Collor, fazia idêntica promessa: ele era o "caçador de marajás".
Jânio mandava recados por bilhetinhos, Collor pelas camisetas que vestia aos domingos, Bolsonaro pelo Twitter.
O Brasil sempre se entregou a políticos antissistêmicos. Lula era antissistema. Antes de se eleger, dizia que havia no Congresso "300 picaretas" preocupados apenas com seus interesses. Valeu-lhe música dos Paralamas do Sucesso. Alçado ao poder, Lula aliou-se aos 300 picaretas e os cevou com recursos do Estado.
Essa foi a grande diferença entre ele e Collor e Jânio: Lula não apenas moldou-se ao sistema; assenhorou-se dele. Lula era o próprio sistema, uma espécie de Luís XIV caboclo.
Esse tipo de governo que ora vige, portanto, não é novidade no Brasil. Ao contrário: é a regra.
Mas há pelo menos uma diferença importante no governo Bolsonaro. Vou falar dela amanhã. E adianto: é algo que pode ser uma bênção ou uma tragédia para o Brasil. É a salvação ou a perdição. Um país que se equilibra eternamente sobre o fio da lâmina do facão, que volta e meia se aproxima demais das hélices. Esse é mesmo o nosso Brasil.
DAVID COIMBRA
Nenhum comentário:
Postar um comentário