quarta-feira, 23 de janeiro de 2019



23 DE JANEIRO DE 2019
POLÍTICA

No idioma de Davos

Foi um Bolsonaro comedido e superficial que discursou em Davos. E pode-se avaliar seu discurso pelo que ele deixou de falar: o presidente evitou citar alianças automáticas com Estados Unidos, Itália e Israel - obviamente, manteve longe do discurso a questão da transferência da embaixada para Jerusalém, para não tirar o foco das promessas de liberalização econômica. Também evitou mencionar líderes que inspiram seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, como o húngaro Viktor Orbán, questionado entre seus pares europeus por arroubos autoritários.

Na meca da globalização, Bolsonaro tampouco criticou o "globalismo", palavra que está impregnada nos discursos e artigos de Araújo, mas que não apareceu na fala de Davos.

Instado a comentar sobre a América Latina, Bolsonaro verbalizou os nomes dos presidentes Mauricio Macri (Argentina), Sebastian Piñera (Chile) e Mario Abdo Benítez (Paraguai) para garantir que "não queremos uma América bolivariana como existia no Brasil". América bolivariana no Brasil? Um ato falho por certo, corrigido em seguida:

- A esquerda não prevalecerá nesta região.

Bolsonaro citou duas vezes a promessa de "retirar o viés ideológico" da política externa e dos negócios. Sem mencionar a China, afirmou que o Brasil quer "aprofundar os negócios com todos os países do mundo".

Embora sem detalhar nenhuma promessa - mesmo quando questionado do "como fazer" -, o brasileiro foi moderado, como se espera de um chefe de Estado. Foi quase neutro, batendo apenas nos bolivarianos, sem citar Nicolás Maduro. O presidente falou o idioma de Davos, prometendo liberalizar a economia e fazer reformas, como diminuir a carga tributária - sem explicá-las. Mas foi o suficiente para o que a plateia dos Alpes suíços queria ouvir.

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