05 DE JANEIRO DE 2019
ANA CARDOSO
Os Sem Presente
Existe um grupo crescente de pessoas que não trocam presentes no fim do ano. Que não os compram. Nem os fazem às pressas. São os Sem Presente.
Aplaudidos pelos economistas, eles não são de todo maus. Você deve conhecer algum. Não comem com as mãos nem arrotam à mesa. Mas não fazem sucesso com as crianças.
Alguns Sem Presente - há quem os chame de lunáticos - sequer comem o peru do Natal. Muitos são veganos, outros fazem jejum intermitente. Há os que fazem churrasco e são bem comilões. Tem de tudo. Não são muito populares, é verdade. Por enquanto.
Optar por não dar presente é uma escolha consciente e séria. Nessa decisão há um bocado em jogo. Como não ser convidado para algumas festas ou sentir a orelha fervendo até a véspera do Ano-Novo.
Por outro lado, a pessoa não precisa quebrar a cabeça para tentar lembrar de alguma pista de presente. E como é difícil acertar sob pressão. Uma coisa é comprar algo quando você se lembra da pessoa, num momento aleatório, outra é entrar em lojas lotadas com a missão de agradar.
O Movimento dos Sem Presente surgiu na casa de uma avó com muitos netos que estavam sempre disputando e chorando porque haviam ganhado menos presentes do que seus primos. Não importava a quantidade de pacotes. Nem o conteúdo dos embrulhos. Era só briga e reclamação.
Ao invés de curtir o presente de que mais gostou ou - valha-me Deus - o mais inusitado ou mais divertido, não. Cada neto só se importava com o fato de o irmão ou a prima ter ganhado mais pacotes. Essa avó, indignada, decidiu que não compraria mais Legos nem tricotaria meias de lã. Se engana quem apostar que a senhora passou a investir o dinheiro em contas de fintechs para os netinhos. Ainda que seja do tipo moderninha.
Tão moderna que fundou esse movimento. Para a tristeza geral das black fridays, aviso que o Natal Sem Presente está virando uma tendência. Antropólogos mais antenados dizem que não é novidade. Que nas periferias isso já é uma realidade há muitas décadas. Pois bem, no último ano foi registrado um aumento entre os praticantes dessa modalidade.
Antes que alguém se encante com esse grupo e queira saber mais, é preciso fazer uma ressalva: você está pronto para abraços desinteressados, sentar e ouvir as pessoas e ser generoso o ano todo? A doar seu tempo e não o seu dinheiro para melhorar a vida das pessoas? Se a resposta é não, é melhor nem tentar entrar para os Sem Presente. Corre pro shopping que é mais fácil.
ANA CARDOSO
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