sábado, 5 de janeiro de 2019


05 DE JANEIRO DE 2019
RBS BRASÍLIA

UMA GUERRA DE CADA VEZ


A cartilha da política em Brasília ensina que um novo governo, se quiser ter sucesso no Congresso, deve enfrentar uma guerra de cada vez. Isso quer dizer que o presidente Jair Bolsonaro terá de escolher entre a batalha da reforma da Previdência e a cruzada contra a Justiça do Trabalho, ou qualquer flexibilização dos direitos trabalhistas que dependa de votação no parlamento.

Essa segunda alternativa é bem mais difícil do que parece, porque pode ser considerada uma interferência em outro poder, além de depender de mudança na Constituição. Pura perda de energia. Na prática, o problema da geração de emprego está na necessidade de crescimento do país. E é aí que entram as mudanças no sistema previdenciário. Os primeiros dias da administração Bolsonaro foram muito bem recebidos pelo mercado e o desafio é garantir que o otimismo continue em alta. Para isso, o presidente precisa manter e afinar o discurso.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já afirmou que a prioridade é a Previdência. Sem firulas ou devaneios, ele apresentou um roteiro claro de seus planos no comando da equipe econômica. Para isso, no entanto, precisa trabalhar para construir consensos, começando pelo próprio governo. Bolsonaro acerta ao defender a idade mínima e, como ex-parlamentar, alerta para a necessidade de um texto que possa ser bem recebido por deputados e senadores. Mas a proposta de 57 anos para mulheres e 62 anos para homens, com transição até 2022, é considerada light, se comparada à mudança originalmente encaminhada pelo governo Temer. Guedes ainda vai apresentar um projeto detalhado e, se depender dos técnicos, serão mudanças bem mais radicais.

O balanço da semana mostrou que é preciso maior sintonia entre o Palácio do Planalto e a turma da política econômica. O descompasso ficou claro com o equívoco de Bolsonaro, que se precipitou e chegou a anunciar medidas que não vão acontecer: aumento de IOF e revisão da tabela do Imposto de Renda. Para o imposto, que cobriria o aumento de gastos com incentivo às regiões Norte e Nordeste, foi encontrada outra solução e o necessário ajuste das alíquotas do IR só vai ocorrer depois que o país colocar as contas em dia. E não é segredo que o equilíbrio fiscal depende diretamente da reforma da Previdência. Isso quer dizer: uma guerra de cada vez.

CAROLINA BAHIA

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