sábado, 3 de outubro de 2015


04 de outubro de 2015 | N° 18314 
ANTONIO PRATA

Trânsito

“E agora, trânsito! Alan Zucchini, é com você!”. “Alô, Ludmila, trânsito complicado, hoje, na capital, seis e catorze da tarde, tamos aí com mais de 500 quilômetros de engarrafamento. Vamos sobrevoando agora a região da avenida Paulista, onde um grupo de 300 manifestantes protesta contra a última chacina, aí, do fim de semana, que matou 15 pessoas em Jandira. As três faixas sentido doutor Arnaldo completamente fechadas”. 

“Eita ferro, todo dia, agora, hein, Alan? É chacina, é professor, é sem teto, é sem isso, sem aquilo! Gente, quer protestar? Legal, mas precisa parar o trânsito? Faz corrente no Facebook! Grupo de zapzap!”. “Haha! É isso, mesmo, Ludimila.”. “Pelamor! Que mais, Alan?” “Zona Leste: pra quem pega a Radial, o trânsito também vai embaçado, aí, no sentido bairro, com uma pista interditada por causa de um acidente envolvendo uma betoneira e um motoboy. Parece que o motoboy, infelizmente, veio a falecer”. “Infelizmente. E continua na pista, o corpo, Alan?”. 

“Pela informação que a gente tem, aqui, continua, sim, Ludmila, tá esperando a chegada da perícia, pra liberar.” “Gente, vê se pode uma coisa dessa? Todo dia morre motoboy em São Paulo! Todo dia! E não tem como agilizar essa perícia? Não tem condição, cada moto que cai, travar a cidade inteira!”. “Pois é”. “Que mais, Alan? Só notícia ruim, hoje?”. “Não tá fácil, não, Ludmila. A Marginal Pinheiros tá bloqueada na altura da ponte estaiada por causa de uma situação com reféns, num ônibus escolar, parece que tem um homem ameaçando explodir uma bomba dentro do ônibus.” “Tragédia! 

Situação com refém na ponte estaiada, na hora do rush, quer dizer, pega a Bandeirantes, Berrini, Roberto Marinho, trava geral, ali! Vamos torcer pra não morrer ninguém, senão amanhã, já viu, lá vai todo mundo fechar a Paulista, de novo!”. “Vamos torcer. Agora, o trânsito tá ruim mesmo é no Morumbi, Ludmila. Um incêndio em 200 barracos na favela de Paraisópolis tá praticamente fechando a Giovanni Gronchi, parece que os moradores da comunidade tão inclusive invadindo as pistas, fugindo do fogo, tá um caos, aquilo ali.” “Que absurdo! 

Um perigo pros motoristas, isso, imagina, atropelar alguém? Perigo até, aí, de assalto, arrastão, cadê a polícia, nessas horas, Alan?”. “A tropa de choque já chegou, Ludmila, tão usando gás lacrimogêneo e bala de borracha pra direcionar o pessoal de volta pra comunidade.”. “E o fogo?!”. “Tranquilo, o fogo não chega na pista, é só nos barracos, mesmo, sem perigo pros motoristas”. “Ainda bem. Bom trabalho da nossa polícia, olha aí, todo mundo critica tanto, nessas horas a gente tem que aplaudir. Mais alguma coisa, Alan?”. 

“Opa, tá chegando aqui uma última notícia: parece que um cachorrinho foi atropelado na pista expressa da Marginal Tietê, perto ali do Cebolão”, “Ai, Alan, que horror! É grave?”, “Ainda não tenho a inf.... Ah, tem sim, parece que é uma cadelinha, uma cadelinha da raça pug, tá, o nome dela é Valkíria e, no caso, ela se encontra desacordada, enquanto vários motoristas, ali, prestam os primeiros socorros”. “Alô, prefeito, cadê o SAMU? Cadê o águia, governador? Ninguém faz nada?! Só orando, mesmo, Alan, vamos orar, vamos ter fé em Deus, que Deus vai ajudar a Val a sair dessa!”. “Amém, Ludmila!”. “Amém!”.

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