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sábado, 9 de maio de 2009
A arte de jogar conversa fora
'É tão bom encontrar pessoas conhecidas e jogar conversa fora. Faz bem aos neurônios. Até porque eles estão com informações armazenadas e que nem eles mesmos sabem se serve para alguma coisa. Daí, dê bastante risada, chore se for triste ou chore de tanto rir. O sol está se pondo, e as pessoas continuam sem olhar para o céu. São coisas que não voltam mais.'
Curimã
Sobre pássaros, palavras e ventos
Há quem não goste de jogar conversa fora. Não é o meu caso. Ao pensar que jogo conversa fora, tenho uma reconfortante sensação de dever cumprido. E até me orgulho, pois sei que jogar conversa fora é um estágio avançado na vida de quem lida com palavras. Os psicanalistas sabem disso e, em seu trabalho, costumam preferir a conversa jogada fora a qualquer outra.
Meu orgulho tem razão de ser. Estou convencido de que não é de modo algum desperdiçada a conversa que jogo fora. Para mim, ela corresponde a uma necessidade. Se não a tiro de mim, ela fica revoando na mente, como uma borboleta que entra por acaso pela janela e não se aquieta enquanto não encontra o caminho de volta para o céu.
Além disso, a conversa jogada fora não é propriamente jogada fora. É jogada ao vento. O que significa que pode ser retomada em outros lugares para onde for conduzida, do mesmo modo como algumas sementes dispersas com a ajuda do vento e dos pássaros terminam produzindo novas árvores longe do local em que foram lançadas.
Fiz um longo trajeto até dominar os rudimentos da arte de jogar conversa fora, da qual ainda sou aprendiz. Tive, antes de mais nada, que perder a ilusão de ser sempre racional. Pensamentos forjados na racionalidade já nascem com o peso de quem se leva a sério. Não têm leveza suficiente para flutuar até o pico onde habita a humildade das coisas jogadas fora.
Em seguida, lutei para reabilitar minha capacidade, há muito perdida, de falar de mim sem receio. Como um monge em busca da iluminação, meditei longamente até convencer-me, de modo inquestionável, da unidade fundamental dos seres. Graças a ela, posso falar dos outros enquanto me refiro a mim mesmo e falar de mim enquanto me refiro aos outros: estou indissoluvelmente ligado à grama, a grama aos pássaros, e os pássaros ao céu. E o céu se conecta naturalmente a cada um de nós.
Se não fosse o bastante, precisei reinventar a minha relação com as palavras. Custou-me um bom tempo entender que, ao contrário dos outros tipos de conversa, a que é jogada fora não busca a utilidade das frases sérias. Em vez disso, brinca com elas, tal como um garoto brinca com seus balões: jogando-os para o alto com a palma da mão.
Por fim, e isso foi o mais difícil, tive que desaprender o domínio das palavras. Como todo desaprendizado, esse foi custoso e, às vezes, dolorido. Mas valeu a pena.
Desaprendida a vontade de dominar, fui capaz de permitir que as palavras jogadas fora, em vez de serem guiadas por mim, se transformassem elas próprias no guia dos meus pensamentos. E descobri a alegria de confiar nelas, assim como a árvore confia no vento e nos pássaros que conduzem suas sementes até o local em que elas, quem sabe, vão germinar.
Márcio Almeida Júnior
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