segunda-feira, 11 de maio de 2009



11 de maio de 2009
N° 15966 - LUIS FERNANDO VERISSIMO


Comparando

Volta e meia alguém pede uma seleção brasileira de todos os tempos, ou o melhor time do Internacional que se viu jogar, ou coisa parecida. Os mais antigos ficam tentados a aceitar o convite, nem que seja só para exibir seu currículo de torcedor.

Como eu. Sempre conto que vi o lendário Domingos da Guia jogando, para impressionar quem acha que seu filho, Ademir da Guia, já é pré-histórico. Só omito o detalhe de que o grande “beque”, como se dizia no meu tempo, estava provavelmente com mais de 40 anos na ocasião, impondo-se mais pelo porte imperial do que pelo futebol.

Mas formar times com jogadores de diferentes épocas é um exercício de futilidade, tanto quanto era a questão sobre quem foi o melhor do século passado, Pelé ou Maradona, que só o Maradona levou a sério.

Pelé e Maradona não foram contemporâneos mas ninguém pode alegar que Pelé teve a vantagem de jogar numa época em que havia mais espaço e menos correria. Quando Pelé começou, a era romântica já tinha passado, já era o futebol de chegada dura no calcanhar e defesas impiedosas que o Maradona encontraria.

É possível, mesmo que não tenha sentido, comparar os dois, portanto. Mas como compará-los com Zizinho, Stanley Mathews, Di Stefano? Estes sim, eram de outra era.

No atletismo, a comparação é mais fácil. As provas continuam as mesmas mas mudaram os métodos de preparação dos atletas, a alimentação, os equipamentos etc e a superioridade de uma geração sobre outra pode ser medida em segundos e centímetros, ou minutos e metros.

No futebol essa aferição exata é impossível, nunca saímos do terreno da hipótese e da fantasia. Qual seria o resultado de um jogo entre as seleções brasileiras de 50 e de 82, só para ficar em dois exemplos de times igualmente brilhantes que fracassaram de maneiras diferentes? Tanto a seleção de 50 quanto a de 82 foram vítimas do mesmo triunfalismo precoce, mas, como disse o Tolstói sobre as famílias infelizes, cada uma à sua maneira.

Um cínico, pesando o ímpeto ofensivo e os descuidos defensivos de cada uma, apostaria num resultado de 6 a 6. Um grande jogo, portanto.

Se pegassem todas as características e estatísticas do Rocky Marciano e do Muhammad Ali, botassem num computador e pedissem para ele dizer quem derrotaria quem, o computador precavido provavelmente diria que numa briga de rua ganharia o Marciano e numa luta de boxe ganharia o Ali.

O mesmo hipotético computador, comparando Pelé e Maradona com, por exemplo, Leônidas da Silva e Sivori, provavelmente se recusaria a dar um resultado, alegando que cada lado praticava um esporte diferente.

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