quinta-feira, 7 de maio de 2009



07 de maio de 2009
N° 15962 - PAULO SANT’ANA


Eu acredito na rapaziada

Não consigo compreender nem explicar para os outros o pânico de que sou tomado quando tenho de me apresentar diante do público.

Também por isso é que evito, ou tergiverso, todos os convites que me fazem para fazer palestras.

Suo frio e tenho dificuldade para dormir nos dias anteriores aos que tenho de fazer palestras inevitáveis, aquelas em que me colocam num brete do qual não posso fugir.

Ninguém acredita que tenho medo doentio de me defrontar com uma plateia. As pessoas acham que falar na televisão ou no rádio é a mesma coisa que subir num palco.

Não é. É completamente diferente.

Anteontem foi o dia de comparecer na Faculdade de Comunicação da PUC e falar com 500 alunos num auditório.

Foram participar comigo o diretor de Redação de Zero Hora, Ricardo Stefanelli, e o editor de opinião de nosso jornal, Nílson Souza, e a editora executiva Rosane Tremea, o que me deixou mais à vontade e com o medo atenuado.

Pouco mais de um mês atrás, passei por idêntica experiência amedrontadora quando tive de comparecer à entrevista com o Ruy Carlos Ostermann, no StudioClio. Um suplício para mim.

Mas, depois que passo por essas experiências, sinto alívio, orgulho e prazer com os resultados.

Foi assim anteontem. Estavam ali na minha frente 500 alunos de Jornalismo da PUC e alguns professores, gente bonita, gente idealista, gente repleta de sonhos, gente competente, jovens, invejavelmente jovens, bateu-me uma nostalgia profunda do tempo em que estudei ali mesmo naquela universidade, no período em que minha vida era alegre, estuante, apetecida.

E lá estava eu diante daquela massa interessada e curiosa de rapazes e moças, refletindo sobre o futuro brilhante deles, sobre as oportunidades que terão em breve de se destacar no jornalismo, esta profissão sedutora a que estão se entregando e à qual emprestarão seu talento certamente.

Que juventude bela aquela que eu tinha pela frente. Que futuro, que capital de talento extraordinário que eles compõem! Eu apostaria tudo no futuro deles, os jovens de hoje são muito mais aparelhados dos que os jovens do meu tempo.

E eles me transmitem que sabem o que querem, que vão em frente, que nada os deterá.

Que juventude extraordinária!

Deu-se o evento em razão dos 45 anos de Zero Hora. E era de ver-se a atenção arguta da plateia, observando com uma quase religiosidade os nossos silêncios, as nossas pausas, as nossas entrelinhas, as nossas palavras, na tarefa de acrescentá-las à intuição e ao conhecimento deles.

Eu olhei para aquela moçada sedenta de futuro com uma inveja boa, tentando adivinhar-lhes o destino de sucesso naquela ânsia indômita de oportunidades que caracteriza a juventude.

Tive por um instante a sensação de que eles saberão melhor manejar a vocação do que eu soubera.

Porque estarão melhor preparados do que eu estava quando iniciei a carreira, só tinha uma máquina de escrever antiga à procura de ideias.

Eles têm muito mais, têm equipamentos moderníssimos à mão. Se eu tivesse tido a internet quando comecei, com certeza teria me mostrado mais lúcido.

Como foi bom ter-me encontrado com a juventude da Famecos anteontem. Deveria tentar fazê-lo outras tantas vezes, tomara que me convidem.

Eles foram lá para tomar ciência do meu passado. Eu fui lá para apostar no futuro radiante deles.

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