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sábado, 2 de maio de 2009
02 de maio de 2009
N° 15957- A CENA MÉDICA | MOACYR SCLIAR
A lição da gripe suína
No gélido dia 5 de fevereiro de 1976, o recruta David Lewis, que servia no quartel de Fort Dix (Massachusetts, Estados Unidos), queixou-se a seu superior de que se sentia fraco e indisposto. Não parecia nada grave, e ele nem quis consultar um médico – mas em 24 horas estava morto. Estava tendo início um dos episódios mais perturbadores da moderna saúde pública.
Duas semanas depois os médicos tinham o diagnóstico da doença que matara o jovem (19 anos) soldado: era gripe suína, causada por um vírus que inexplicavelmente migrara dos animais para o ser humano. A notícia causou enorme alarme.
De imediato, evocou-se a pandemia da gripe espanhola de 1918-19, que tinha sido trazida da Europa para os Estados Unidos exatamente por soldados que regressavam da guerra, e que matara cerca de 20 milhões de pessoas no mundo.
O fato causou enorme preocupação para o governo americano, inclusive porque ocorria em circustâncias difíceis. Era presidente o republicano Gerald Ford, candidato, naquele mesmo ano, à reeleição. Enfrentava, em seu próprio partido, a ferrenha oposição de Ronald Reagan. Nessas circunstâncias, uma epidemia poderia ser politicamente catastrófica.
As autoridades americanas de saúde não sabiam o que fazer. Não havia vacina e seria necessário um programa maciço, de altíssimo custo, para produzi-la. Mas em março, depois de sofrer uma derrota para Reagan nas prévias da Carolina do Norte, Ford decidiu ir em frente com o programa. O imunizante foi apressadamente produzido e logo estava sendo aplicado. Quarenta milhões de pessoas foram vacinadas, mas o objetivo era imunizar toda a população americana.
O resultado foi desastroso. Reações graves ocorreram, em alguns casos associadas a óbito; outras pessoas desenvolveram lesões neurológicas. A vacinação foi suspensa. E, paradoxalmente, a epidemia de gripe suína não se transformou em realidade.
O caso representou uma lição inesquecível. Mostrou, em primeiro lugar, como é perigosa a combinação de política eleitoreira com saúde pública. E ensinou que, nestes casos, os critérios técnicos e científicos devem predominar.
As novas vacinas passaram a ser produzidas com grande cuidado. Ao mesmo tempo, mostrou-se que a prevenção da gripe também depende de medidas higiênicas. Finalmente, aprendemos que, nessas circunstâncias, o pânico não leva a nada. Na saúde, como em tudo, o bom senso deve prevalecer.
Do dr. Ricardo Stein, médico gaúcho que atualmente trabalha como professor de Cardiologia do Exercício na Universidade de Stanford, Califórnia, recebo mensagem sobre a gripe suína nos Estados Unidos. Apesar de toda a sua formidável estrutura assistencial, os americanos estão alarmados diante de uma ameaça que esperemos não se concretize.
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