segunda-feira, 5 de novembro de 2007



05 de novembro de 2007
N° 15409 - Paulo Sant'ana


Ditadura dentro da lei

Tempos bons aqueles da minha infância, em que os leiteiros só botavam água no leite.

Um carroceiro, surgido não sei de onde, jogou a sua carroça e o seu cavalo sobre mim, quando eu atravessava a Avenida Erico Verissimo.

Caí no asfalto ao me esquivar da carroça. Aprumei-me e ergui minha bolsa do chão, o carroceiro de dedo em riste gritava para mim: "Vocês, pedestres, só servem para atrapalhar o trânsito".

Segui, mudo e humilde, o meu caminho.

O presidiário Jaquismon Santos Lopes, da Penitenciária Modulada de Charqueadas, já me mandou três cartas de próprio punho.

A primeira carta eu guardei, o que fiz também com a segunda. Mas a terceira carta me queima na idéia e resolvi fazer uma coisa a meu alcance para atendê-lo.

Ele se diz desesperado porque não tem como ser visitado por seus familiares no presídio de Charqueadas, parece-me que sua família não pode custear a viagem de Camaquã até lá.

Quer cumprir sua pena, mas o atormenta não poder ser visitado pela família.

Diz que só eu posso ajudá-lo. E eu fico com as suas três cartas ardendo na minha gaveta.

Então, decidi escrever isto que estou escrevendo. O preso declara que em Camaquã, sua cidade, existe um preso que quer ser transferido para Charqueadas. O nome do preso é Armando Figueiró.

Pode ser que alguma autoridade penal ou penitenciária se comova, como eu me comovi, e proceda a essa permuta.

Ufa, como me sinto bem por ter-me livrado do sufoco dessas três cartas.

Nunca um governante americano vai somar tantos poderes ditatoriais quanto Hugo Chávez, da Venezuela.

Ele conseguiu a aprovação pelo Congresso Nacional, no qual tem maioria cativa, de uma reforma constitucional que lhe concede poderes nunca antes imaginados por quem conquistou a presidência nas urnas.

Tirou a autonomia do Banco Central, tem poderes agora para privar todos os cidadãos de suas garantias individuais, pode expropriar bens de pessoas e de empresas.

Ele está dando uma aula de como pode um governante falsamente democrático tornar-se um ditador.

Nos últimos dias, na Venezuela, os estudantes e a oposição ensaiaram seus derradeiros protestos contra a iniciativa ditatorial do presidente, mas agora não poderão mais sair às ruas, cai um manto de silêncio e de terror sobre o país.

Tomara que esse exemplo se restrinja somente à Venezuela.

Chegou ao cúmulo de estender o mandato presidencial para sete anos, podendo ser reeleito quantas vezes quiser, isto é uma barbaridade, mas tudo dentro da lei.

A provar que dentro da lei se pode cometer os maiores desmandos.

Lamentável o que aconteceu com o Grêmio neste final de campeonato. O time chegou a dar esperanças à torcida de que poderia ingressar na Libertadores do ano que vem.

Mas parece que está caindo a máscara da presumível qualidade gremista. Não pode ir mesmo à frente time que não tem goleiro, tantas vezes isso foi dito solitariamente por mim em meus espaços.

Agora só um milagre pode salvar o Grêmio nos jogos finais.

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