sexta-feira, 23 de junho de 2023


23 DE JUNHO DE 2023
CAPA

Pesado como os tempos de pandemia

Pedro Borghetti realiza shows de lançamento do disco "Pendenga", criado durante a crise sanitária

Durante o período mais dramático de isolamento da pandemia, antes da vacina chegar, não faltaram artistas que buscaram reverberar aquelas trevas em diferentes formas de expressão. E ainda há frutos daquela fase de incertezas ganhando as ruas: no começo de maio, o cantor e compositor Pedro Borghetti disponibilizou Pendenga nas plataformas digitais. Neste final de semana, ele fará shows de lançamento do disco. Pedro se apresenta hoje e amanhã, às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel do Multipalco Eva Sopher (veja detalhes sobre ingressos na página 3). No repertório, faixas deste segundo álbum solo.

Filho de Cadica Pereira Costa e Renato Borghetti, o músico de 27 anos tem acompanhado o pai nos espetáculos pelo mundo afora, tocando bombo leguero. Antes, foi bailarino na companhia de dança da mãe, até os 16 anos. Também lançou um álbum com o quarteto OBSP - João Ortácio (O), João Salazar (S) e Poty (P), sendo ele o B de Borghetti -, em 2020, além de integrar o coletivo de artistas, selo e estúdio Pedra Redonda há cinco anos, entre outros projetos de que participou em sua trajetória.

O disco de estreia da carreira solo de Pedro saiu em 2019, intitulado Linhas de Tempo - que lhe rendeu o Prêmio Açorianos de Música na categoria Melhor Compositor de MPB. Contudo, segundo relata o músico, naquele momento ele recém estava começando a cantar. Desta vez, ele pode trabalhar com mais maturação no projeto.

- Queria tocar em um formato mais rock, com banda - destaca. - Pendenga se transformou em uma coisa mais pesada que o primeiro, com pulso mais firme. O primeiro era mais leve e suspenso no ar.

Quando Pedro fala em banda, ele se refere ao trio CeronFlachNeves, composto por Guilherme Ceron (baixo e produção musical), Lorenzo Flach (guitarra, efeitos e piano) e Bruno Neves (bateria e beats). Essa mesma formação irá acompanhar o músico nas apresentações no Teatro de Oficina.

O álbum ainda conta com participações de Gabi Lamas, Jorginho do Trompete e Paola Kirst - esta, aliás, é creditada também como produtora vocal do álbum, tendo auxiliado o cantor no direcionamento de suas interpretações.

Imersão

Pendenga foi concebido após uma imersão dos músicos no sítio da família de Borghetti, na Barra do Ribeiro, e gravado em dezembro de 2021 no Estúdio Pedra Redonda. Porém, ainda levou um tempo para o álbum ser concluído.

Com referências ao rock latino e à MPB, Pendenga teve três nomes essenciais para construir sua sonoridade. O primeiro é Taiguara. Um dos cantores mais censurados pela ditadura militar, ele serve como referência neste trabalho como compositor e intérprete. Pedro cita o disco Imyra, Tayra, Ipy (1976) como fundamental. Outro nome é João Bosco, principalmente pelos seus trabalhos mais antigos. Por fim, o roqueiro argentino Luiz Alberto Spinetta.

Ao longo de 11 faixas - a maioria com parcerias nas composições, contando com nomes como Carlos Medeiros, Karine Santos e Poty -, Pendenga tem como pano de fundo a situação política do Brasil e o confinamento forçado pela pandemia. É o que pode ser observado em Fatídico, que Pedro considera uma das músicas mais fortes do trabalho. Fala sobre a morte.

- Fatídico surgiu na primeira sensação de dúvida que tive se estava com covid ou não. Naquele momento em que a gente não sabia de nada, não tinha nem vacina, senti uma pontadinha na garganta e no pulmão e pensei "bá, vou morrer" - lembra.

Pedro frisa que Sombra, que aborda o mito da caverna, de Platão, também é um retrato do período em que o disco foi construído:

- Trata de estar preso em uma coisa que tu não sabes o que é. Preso nessa dúvida, e com alguém ali mandando, e a pessoa que mandava não era nada confiável.

Sobre a apresentação no Teatro Oficina, Pedro destaca que o espaço propicia um mergulho tanto para os músicos quanto para o público, pois ambos estão próximos. Ele prevê um show com muita pluralidade sonora, com momentos de calmaria, de baladas, mas podendo virar rock, funk, samba, misturando-se a diferentes ritmos.

- Estamos sempre experimentando, a peteca está sempre no ar. Tanto para o suave quanto para o denso - diz.

 WILLIAM MANSQUE

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