terça-feira, 20 de junho de 2023


20 DE JUNHO DE 2023
NÍLSON SOUZA

Ciclone no paraíso

Conheci Maquiné em plena pandemia, numa excursão de mascarados a Amó - espaço cultural localizado entre as margens do Rio Maquiné e a Reserva Biológica da Serra Geral, criado e mantido por um jovem casal comprometido com a vida simples e a preservação ambiental. A fotógrafa Mirella e o produtor cultural Pascal construíram um recanto paradisíaco para receber visitantes interessados em conhecer o que eles próprios chamam de "outro viver", bem diferente dos confortos das cidades urbanizadas. Moram numa casa de paredes de barro com telhado verde e recebem hóspedes em construções de madeira erguidas em meio a árvores e cascatas, proporcionando-lhes um verdadeiro banho de natureza e de cultura agroecológica.

Quando estive lá, em fevereiro do ano passado, a maior atração do passeio era a menina Lena, de cinco anos, filha do casal anfitrião, uma loirinha linda e valente que percorre sozinha os caminhos da floresta, sobe em árvores e pedras com desenvoltura e encanta os visitantes com a sua simpatia. Ficamos sabendo que foi dela a inspiração para o nome do lugar, pois chamava de "amó" todas as pitangas, acerolas, mirtilos e amoras que encontrava nas suas caminhadas diárias pelo mato.

Ao ver Maquiné submersa nas imagens da TV, depois do ciclone da semana passada, me lembrei imediatamente daquela breve excursão ao paraíso. Na ocasião, tomamos banho nas águas tranquilas e rasas do rio que agora elevou-se sobre a cidade, provocando mortes e destruição, como também ocorreu em outras localidades atingidas pelo fenômeno meteorológico.

É uma dor imensa ver o Rio Grande ferido por intempéries quando ainda nem se recuperou dos suplícios da recente e prolongada estiagem. O que nos consola e comove é constatar a imensa onda de solidariedade que também se ergue no rastro da catástrofe. Juntamente com as autoridades que se mobilizam para socorrer os desabrigados, vizinhos, amigos e desconhecidos voluntariam-se para auxiliar, alimentar e dar conforto às pessoas que perderam parentes, casas e pertences na enxurrada. Ao ver tanta mobilização, me convenço de que vamos sair fortalecidos desta nova provação.

Com o voluntarismo e a coragem daquela menininha desbravadora de Maquiné, a gauchada certamente vai reconstruir todas as cidades arrasadas pelo ciclone, pois o verdadeiro paraíso - imune a ventos e tempestades - se chama fraternidade e está localizado no coração das pessoas de boa vontade.

NÍLSON SOUZA

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