24 DE JUNHO DE 2023
+ ECONOMIA - marta sfredo
No caso do submersível, riscos privados e resgate público
A "implosão catastrófica" - ou seja, não controlada - do submersível Titan custou cinco vidas. Para chegar a essa triste constatação, foi necessário despender recursos públicos, porque essas cinco pessoas decidiram correr riscos privados, a um custo de cerca de US$ 250 mil (cerca de R$ 1,1 milhão) cada. No país que há pouco mais de 20 dias passou pelo desconforto de elevar o teto da dívida pública, que exigiram cortes em despesas públicas - apesar de ser rico e ter a máquina de imprimir dólares -, é o debate que se seguiu à tragédia.
Além dos Estados Unidos, que mobilizou a Marinha e a Guarda Costeira - dois órgãos sustentados pelos contribuintes -, o Canadá também contribuiu nos esforços que exigiram submarino, aeronaves e sonares em miniatura, além de pessoal de operações, controle e comando.
Ao jornal The New York Times, o diretor-executivo da Associação Nacional de Busca e Resgate, Chris Boyer, disse que tudo isso "provavelmente custou milhões" de dólares. Até a França enviou um robô capaz de mergulhar a grandes profundidades.
É bom lembrar que, nos EUA, não há sistema universal de assistência à saúde, como em Brasil, Canadá e Reino Unido. Ou o cidadão tem plano de saúde, geralmente corporativo, ou tem de pagar pelo atendimento. Ou seja, não se usa recursos públicos para salvar vidas facilmente localizáveis, a maioria das quais não se engajou em uma atividade de altíssimo risco para necessitar de cuidados.
Os cinco passageiros do Titan assinaram um termo de responsabilidade para entrar em um cubículo cuja porta só abria pelo lado de fora e era dirigido por um sistema pouco diferente do controle de um videogame - para não citar outras condições imprudentes. Ao menos três eram bilionários.
Outros acreditaram que era uma forma de saber mais sobre o naufrágio do Titanic. Seguiam mais uma obsessão pessoal do que uma busca de conhecimento para melhorar tecnologias atuais ou futuras, caso das viagens ao espaço. Agora, o que é preciso saber é se fizeram, também, algum seguro capaz de devolver ao menos parte dos gastos financiados por quem não tem fortunas para fazer aventuras extremas.
É uma boa lição para o Brasil: há risco imenso em tolerar - ou incentivar - atividades privadas que só socializam prejuízo ou ineficiência. E por aventuras extremas não se deve entender apenas mergulhos a quatro quilômetros de profundidade. É uma discussão pertinente enquanto avança a tramitação da reforma tributária.
Bolsonaro foi muito além de contestar
Especialistas em pesquisas de opinião costumam dizer que a memória do eleitorado dura seis meses. Mesmo quem aposta na capacidade humana de esquecer momentos históricos dramáticos teria pudor de proclamar, como fez o ex-presidente Jair Bolsonaro na sexta-feira, em Porto Alegre, que ele apenas "contestou o sistema de votação".
Da forma que o fez, já seria muito, mas foi muito além. Retomando a produção diária de ultrajes, fez de conta que não havia uma "minuta de golpe" no arquivo de seu ex-ministro da Justiça Anderson Torres, nem um roteiro para a intervenção que só não foi seguido, como escreveu seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, porque "o PR não confia no ACE (Alto-Comando do Exército)".
Faz parte do jogo democrático ouvir todos os seus atores, de todos os espectros políticos, da extrema direta à extrema esquerda. Mas ouvir um ator que mina a essência do jogo democrático requer também lembrar que esse personagem não tem compromisso com essas regras.
Como está claramente desenhado a essa altura - o que obrigou a coluna a admitir erro ao chamar de bravata as sucessivas, reiteradas e constantes ameaças de intervenção - foi por muito pouco que o Brasil não assistiu a uma nova tentativa de ruptura institucional.
E como já disse um colega mais sábio, não é porque um crime não deu certo que não deve ser punido, vide as previsões penais para tentativa de homicídio e outros. É o que pode ocorrer ainda na próxima semana no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caso o plano de ganhar tempo com o pedido de vista ao processo que deve tornar Bolsonaro inelegível também fracasse.
o substitutivo do deputado reginaldo lopes já era para ser a "reforma da reforma" tributária. Mas depois de lido, o material deixou mais dúvidas do que certezas em entidades empresariais. A Câmara pretende aprovar em modelo trator até 7 de julho.
0,25
ponto percentual, em banco-centralês, seria a tradução de "parcimônia" - usada no comunicado da quarta-feira que frustrou até o mercado. A expectativa de quem ainda aposta em corte de juro em agosto é de que, com a expressão, o BC quisesse sinalizar poda simbólica.
Ex-presidente do BC aponta "ataque"
Em meio a uma discussão técnica sobre inflação e juro, o ex-presidente do Banco Central Afonso Celso Pastore se exasperou. Ao comentar a situação de conflito entre o governo Lula e o BC, disse que o nível das críticas "colocam a instituição sob ataque". Na sexta-feira, ainda sob o ruído provocado pelo comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), a Fundação Getulio Vargas realizou seu nono Seminário Anual de Política Monetária.
Pastore falava sobre a taxa neutra de juro - teoricamente, o nível que não favorece nem freia o crescimento da economia - quando trocou o tom professoral para outro mais agudo:
- O Banco Central é uma instituição sob ataque. Quando o presidente da República se refere a seu presidente como "aquele cidadão", faz um ataque à instituição. Os economistas precisam ter coragem de dar um grito em defesa da instituição que vem fazendo exemplarmente seu trabalho e denunciar o governo que a vem atacando. Não é uma conduta que um estadista deveria ter.
Conforme Pastore, o que chamou de "denúncia" é uma forma de reconhecer que o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, não tem a mesma liberdade para reduzir a taxa básica de seu antecessor, Ilan Goldfajn, que criou as condições para o corte à mínima histórica de 2%.
O motivo, justificou, é porque não tem o conforto da política fiscal determinada pelo teto de gastos. Para lembrar, Pastore chegou a ser anunciado como coordenador das propostas econômicas de Sergio Moro, antes da retirada da candidatura do ex-juiz à Presidência.
ESG na prática - Selo de sustentabilidade na orla
O primeiro selo de sustentabilidade Aqua-HQE, certificado internacional de construção de qualidade ambiental, para uma edificação multiuso de Porto Alegre, foi para a torre do Pontal. O prédio à beira do Guaíba abriga hotel, 230 consultórios, clínicas, salas comerciais e centro de eventos.
A chancela desenvolvida a partir da certificação francesa Démarche HQE é aplicada no Brasil apenas pela Fundação Vanzolini, e cobra práticas eficientes e de cuidado ambiental que vão do projeto à execução. Para receber o selo, a obra precisa cumprir exigências de controle de compra de materiais, consumo de água, energia elétrica e geração de resíduos, além de comprovar boas práticas de sustentabilidade no canteiro de obras e seu entorno, que incluem conforto acústico, olfativo e visual.
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