Negócios que fluem: Aegea é a Empresa do Ano no Melhores do ESG
O Brasil tem um problema histórico de saneamento, e consertar isso é a missão da Aegea. Atuando em um setor que deve receber 116 bilhões de reais em investimentos nos próximos anos, a Melhor do ESG 2023 transforma água em benefício e lucro em impacto positivo.
Mais do que um aficionado pela história, Casseb é um conhecedor da realidade social do país. E sabe que Rio Branco, a capital acreana, tem um dos piores serviços de saneamento do Brasil. Cerca de 40% de seus moradores não recebem água tratada, e quase 80% carecem de coleta de esgoto. Não por acaso, o Acre apresenta uma das piores taxas de mortalidade infantil entre as unidades da federação, perdendo apenas para Roraima e Amapá. Essa é uma realidade que, infelizmente, acomete boa parte da população brasileira.
Os índices de saneamento brasileiros são, nas palavras de Casseb, medievais. São quase 35 milhões de pessoas sem acesso a água tratada e 100 milhões sem coleta de esgoto. Quase metade do esgoto coletado não é tratada, e apenas 18 entre os 100 maiores municípios tratam mais de 80% de seu esgoto. Ineficiências na distribuição geram perdas superiores a 40%, o equivalente a 7.500 piscinas olímpicas de água tratada por dia. Em um ano, esse desperdício seria suficiente para abastecer uma população de 63 milhões de pessoas.
“O acesso à água está na base da dignidade humana”, afirma Casseb. “A gestão da água, há algum tempo, é tida como a atividade mais importante para a adequação e a manutenção do tecido social. Na pandemia, isso ficou mais claro. A água era a última barreira de defesa, e a falta de saneamento se apresentou como um dos maiores riscos para a humanidade. Nosso corpo é 70% água. O mundo é 90% água.” Reverter esse quadro medieval no Brasil e levar água potável, segura e acessível para toda a população é a razão de existir da Aegea, uma empresa ESG por natureza.
Essa não é, no entanto, a única razão que faz da Aegea a Melhor do ESG 2023. Ter um propósito é apenas o começo. Dessa visão sobre a atividade econômica se desenvolve uma estratégia de atuação sustentável, que considera o negócio um vetor de bem-estar social, entregando valor para a sociedade tanto quanto para o acionista. Isso é possível porque a Aegea também enxerga os fatores ambientais como parte do negócio e trabalha para que sua presença, assim como no caso social, traga melhorias ao meio ambiente. Não basta preservar, é preciso regenerar.
No ano passado, a Aegea aderiu ao Programa Floresta Viva, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A empresa está investindo 10 milhões de reais para a recuperação de biomas da Mata Atlântica e do Pantanal. Cerca de 340.000 árvores de espécies nativas serão plantadas. Em parceria com a ONG WWF Brasil, foram iniciados estudos sobre a resiliência hídrica das bacias hidrográficas mais relevantes para a captação de água em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, um passo importante para direcionar os trabalhos de preservação e recuperação dos mananciais.
A disponibilidade hídrica, para a empresa, está diretamente relacionada às mudanças climáticas. Há um acompanhamento constante de indicadores por meio de uma matriz de risco, que é complementada por estudos geofísicos para detectar novos pontos para a captação de água subterrânea, consultorias meteorológicas e investimentos em infraestrutura de resiliência hídrica. Essa constatação também motiva a companhia a buscar a redução das emissões em suas operações. No ano passado, 97% da energia elétrica consumida veio de fontes renováveis. Com tudo isso, e somado aos 527 bilhões de litros de esgoto tratados pela companhia em 2022, o resultado que se tem é impacto positivo.
Sustentabilidade financeira
A Aegea é, hoje, líder em sanea•mento no Brasil. Com as recentes adições de concessões no Crato e na região metropolitana de Fortaleza, no Ceará, e a aquisição da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), a empresa alcançará mais de 480 cidades, atendendo uma população de 30 milhões de pessoas. A receita líquida alcançou 3,7 bilhões de reais (sem considerar a operação da coligada Águas do Rio, que não entra nas demonstrações financeiras — com ela, a receita sobe para 8,3 bilhões de reais). O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi a 2,5 bilhões de reais, um aumento de 35,6% em relação ao ano anterior.
O setor de saneamento tem recebido, nos últimos anos, investimentos importantes. Até abril deste ano, os projetos em curso no país, tanto de concessões quanto de parcerias público-privadas (PPPs), previam injetar 116 bilhões na área, de acordo com a consultoria •Radar PPP. São valores importantes, porém apenas o início de uma subida íngreme para universalizar o sanea•mento. A projeção é que, para isso, serão necessários 893 bilhões de reais em investimentos até 2033, segundo estudo realizado pela Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon Sindcon).
Para Casseb, é inviável imaginar esse nível de investimento apenas com o setor público. Ao mesmo tempo, é imprescindível que o setor privado tenha um olhar além do lucro para a questão e coloque as pessoas no centro. O objetivo comum, no fim do dia, é gerar transformações sociais. “E não existetransformação sem colocar pessoas e recursos no lugar certo”, diz o CEO.
Um dos riscos enfrentados pelas empresas nessa busca pela universalização ainda é o regulatório. No final de maio, o setor ficou aliviado com a retirada de uma proposta de criação de um departamento, sob controle do Ministério das Cidades, com poder regulatório sobre o saneamento, incluída na Medida Provisória 1154, conhecida como a MP da Reestruturação dos Ministérios. A medida, na visão das empresas, criaria uma estrutura regulatória complexa, com departamentos sobrepostos em diferentes ministérios. O risco foi evitado, mas o espectro do risco regulatório ainda paira sobre o mercado.
Diversidade e inclusão
“Fui contratada aos 58 anos”, afirma Márcia Costa, vice-presidente de gestão de pessoas da Aegea, que recentemente assumiu o comando da área de sustentabilidade. “Quando o Radamés me ligou, eu disse: ‘Você tem certeza’? E ele repetiu o convite. Não imaginava que isso pudesse acontecer.” A valorização do humano, presente na estratégia de negócios, também se mostra real na relação da companhia com os funcionários. Recentemente, a empresa definiu as diretrizes de gestão de pessoas, cujo foco está em comportamentos como “mestre em brasicidades”, sobre o conhecimento local; embaixadores da saúde, sobre bem-estar; e agentes da dignidade, sobre impacto positivo.
Os números de diversidade ainda não são os melhores, mas as metas estão traçadas. Em sete anos, a Aegea espera chegar a 45% de mulheres e 27% de pessoas negras em cargos de liderança — atualmente, os números estão em 35% e 25%, respectivamente. “Não nos pautamos pela eficiência meramente financeira. O que nos move são os resultados para a comunidade. Trabalhamos com a natureza e a prosperidade, o que exige talentos que sejam capazes de levar em conta o amanhã”, diz Costa. •Falando em eficiência, em 2022 a Aegea poupou 20 bilhões de litros de água com investimentos na operação e em inovação. Resultado obtido por pessoas, que beneficia pessoas.
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