Político não vai de ônibus
Só uma desconexão com a realidade do povo explica a falta de ação dos políticos de Brasília com o transporte público de passageiros municipal. Ônibus abarrotados de passageiros, mal ventilados, que normalmente falham no cumprimento de horário e cobram passagens caras. A culpa não é do motorista ou do cobrador. É carência de um sistema que não se sustenta.
Pergunte a alguém que mora no bairro Restinga, no extremo sul de Porto Alegre. Além de ser errante no horário durante o dia, a linha que atende ao bairro, onde residem mais de 60 mil pessoas, depois das 20h, muda de nome e assume um itinerário que atende a pelo menos 10 outros bairros. Ou seja, a mudança na linha é para atender mais gente. Convém lembrar que a Restinga tem uma população equivalente ao município de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra.
Os moradores da Lomba do Pinheiro, em outra área da cidade, organizaram um abaixo-assinado para pedir algo elementar, o cumprimento de horário do ônibus. Ele é o meio de transporte de trabalhadores, estudantes e passageiros em geral. São ônibus articulados que podem carregar dezenas de pessoas. Os problemas se sucedem de Leste a Oeste, de Norte a Sul.
Em Porto Alegre, a prefeitura tenta a privatização da empresa Carris, que explora as linhas mais rentáveis da cidade, as transversais, com o indicativo do T. O passageiro não está interessado se é público ou privado. Ele quer transporte que funcione a um preço módico. O povo está alheio ao assunto da privatização.
Há muito tempo, as prefeituras de capitais de todo o país pedem ajuda do governo federal para tentar resolver o problema. Uma das medidas sugeridas e imploradas é a redução ou, até mesmo, o fim do imposto sobre o combustível usado nos ônibus. Agora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz que a partir de setembro o imposto sobre o diesel voltará ser cobrado. Ele tinha outra opinião quando era prefeito de São Paulo e controlava diretamente o transporte público do maior município da América Latina.
O certo é que algo precisa ser feito para dar mais qualidade ao meio de transporte que é usado por milhões de pessoas todos os dias. E não é a redução de imposto sobre carros populares que vai mudar essa realidade.
DANIEL SCOLA
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